Papa expulsa 10 membros de movimento católico peruano por abuso sádico de poder
26 de set. de 2024, 10:40
— Lusa/AO Online
A decisão foi antecedida por uma investigação feita pelo Vaticano. A
punição da liderança do Sodalitium Christianae Vitae, ou Sodalitium of
Christian Life, seguiu-se à expulsão do fundador do grupo, Luis Figari,
pelo papa depois de se apurar que sodomizava os recém-chegados ao
movimento. O anúncio foi feito pela
Conferência dos Bispos do Peru, que colocou uma declaração da embaixada
do Vaticano no seu sítio na internet.A
declaração é espantosa, porque lista os abusos descobertos pela
investigação do Vaticano, os quais raramente têm sido punidos
canonicamente desta forma, e nomeia as pessoas responsabilizadas. Segundo
o comunicado, os investigadores do Vaticano descobriram abusos físicos,
“incluindo com sadismo e violência”, abusos de consciência próprios de
uma seita, abusos espirituais, abusos de autoridade, abusos na gestão do
dinheiro da igreja e “abusos no exercício do apostolado do jornalismo”.
A última referência está associada a um
jornalista com ligações ao Sodalitium que atacou críticos do movimento
nas redes sociais. Figari fundou o
movimento em 1971 como uma comunidade laica para recrutar “soldados de
Deus”, uma das várias organizações católicas nascidas de reação
conservadora ao movimento da teologia de libertação, que se espalhou
pela América Latina, desde a década de 1960. No seu máximo, o grupo contou com 20 mil membros, na América do Sul e EUA, com uma grande influência no Peru. Há
queixas das vítimas dos abusos de Figari à arquidiocese de Lima datadas
de 2011. Mas nem a igreja local nem a Santa Sé tomaram ações concretas
até que uma das vítimas, Pedro Salinas, escreveu um livro com a
jornalista Paola Ugaz, em que detalhou as práticas condenáveis do
Sodalitium, em 2015.Uma investigação
externa ordenada pelo Sodalitium posteriormente apurou que Figari era
“narcisista, paranoico, humilhante, ordinário, vingativo, manipulador,
racista, sexista, elitista e obcecado com questões sexuais e a
orientação sexual” dos membros do Sodalitium.Publicada
em 2017, a investigação apurou que Figari sodomizava os recém-chegados e
forçava-os a acariciá-lo a ele e a outra pessoa. Gostava ainda de os
ver “a sofrer, desconfortáveis e receosos”, e humilhava-os à frente de
terceiros para reforçar o seu controlo sobre eles, especificou-se no
relatório. Porém, a Santa Sé recusou
expulsar Figari do movimento em 2017 e apenas lhe ordenou que se
separasse da comunidade do Sodalitium em Roma e cessasse todo o contacto
com ela. O Vaticano parecia estar
limitado pela lei canónica que não prevê tais castigos para os
fundadores de comunidades religiosas que não são padres. As vítimas
ficaram indignadas. Mas a investigação
mais recente do Vaticano apurou que os abusos iam além de incluindo
padres do Sodalitium, enquanto também cobriam os crimes cometidos no
exercício dos deveres oficiais. A
investigação foi feita pelos principais investigadores do Vaticano para
os crimes sexuais, o bispo maltês Charles Scicluna e monsenhor Jordi
Bertomeu, do Dicastério para a Doutrina da Fé, que se deslocaram a Lima
no último ano para obter testemunhos das vítimas. A
pessoa expulsa com o cargo mais elevado foi o bispo Jose Antonio
Eguren, que Francisco tinha forçado a resignar de bispo de Piura em
abril, pelo seu historial, depois de este ter processado Salinas e Ugaz
pelo seu relatório.