Papa exige aos bispos que não encubram os abusos e levem os abusadores à justiça
30 de set. de 2024, 11:15
— Lusa/AO Online
“Peço-vos a todos: não encubram os
abusos! Peço aos bispos: não encubram os abusos! Condenem os abusadores
e ajudem-nos a curar-se desta doença do abuso”, afirmou o Papa numa
missa que marcou o final de uma visita que evidenciou o fosso entre
alguns católicos belgas e Roma, nomeadamente no que se refere ao papel
das mulheres na Igreja.Afirmando que, no
encontro que teve com pessoas abusadas em Bruxelas, sentiu “o
sofrimento", Francisco sublinhou que na Igreja “não há lugar para
abusos, nem para encobrir abusos”, recebendo aplausos dos fiéis.“Pensamos
no que acontece quando os mais pequenos são escandalizados, feridos,
maltratados por aqueles que deveriam cuidar deles, nas feridas da dor e
da impotência, em primeiro lugar das vítimas, mas também das suas
famílias e da comunidade”, acrescentou o Papa.E
prosseguiu: “Com a minha mente e o meu coração, volto às histórias de
alguns destes pequeninos que encontrei na sexta-feira.
Escutei-os, senti o seu sofrimento de abusados e repito-o aqui: na
Igreja há lugar para todos, para todos, mas todos serão julgados e não
há lugar para abusos, não há lugar para encobrir o abuso”.Neste
duro discurso na Bélgica, país que está ainda a ressentir-se das
centenas de casos de menores abusados por membros da Igreja, Francisco
afirmou que “o mal não pode ser escondido”, mas deve antes “ser trazido à
luz, deve ser conhecido, como alguns abusadores fizeram, e com
coragem”.“E que o abusador seja julgado.
Que o abusador seja julgado, quer seja um leigo, uma leiga, um padre ou
um bispo: que seja julgado”, acrescentou o Papa, que recebeu 17 vítimas
belgas na nunciatura.Ao amanhecer, com
bandeiras belgas e do Vaticano, cerca de 35.000 fiéis ocuparam os seus
lugares no estádio Rei Balduíno.O
pontífice de 87 anos deu uma volta pelo estádio no seu “Papamóvel”,
aplaudido pelos fiéis que se juntaram aos gritos ao som da música
retumbante dos órgãos.Durante a sua visita
de três dias, a primeira de um Papa à Bélgica desde João Paulo II em
1995, Francisco foi questionado sobre a crise de violência sexual contra
menores, o acolhimento dado às pessoas LGBT+ e o lugar das mulheres na
Igreja, temas que evidenciaram as elevadas expectativas dos católicos
belgas em relação a uma doutrina que alguns consideram demasiado
antiquada.A sua resposta sobre o
lugar das mulheres provocou alguma deceção e incompreensão no seio da
Universidade Católica francófona de Louvain-la-Neuve (UCL), uma das
universidades católicas mais famosas da Europa, que, num comunicado de
imprensa, criticou a “posição redutora” das opiniões que o Papa reiterou
sobre as mulheres e o aborto.A homilia de domingo foi celebrada no estádio que tem o nome do Rei Balduíno, que
Francisco elogiou por ter abdicado por um dia, em 1990, em vez de dar o
seu aval a um projeto de lei aprovado pelo parlamento que legalizava o
aborto.A visita não programada de
Francisco para rezar no túmulo do rei e a declaração de que a legislação
era “homicida” foram alguns dos vários gestos que, num país outrora
fortemente católico, enervaram os seus jovens secularizados, muitos dos
quais se afastaram da fé.Ainda assim, o
estádio - que tinha uma capacidade de 37.000 pessoas para a missa -
estava quase cheio para a homilia e a multidão vibrou quando Francisco
chegou no seu “Papamóvel” e parou para beijar os bebés que lhe foram
entregues.O Papa deverá deixar Bruxelas ao
meio-dia de hoje e dar a sua tradicional conferência de imprensa a
bordo do avião que o levará de volta a Roma.