Pandemia vai criar várias velocidades na mobilidade global
10 de set. de 2020, 18:36
— Lusa/AO online
Durante
uma conferência sobre o “impacto da pandemia na Agenda 2030 – o caso
das migrações”, organizada pelo Instituto Camões, a que a Lusa assistiu,
Vitorino disse estar preocupado com o impacto da atual crise sanitária
global, referindo o exemplo do modo como os migrantes estão a ser
vítimas de políticas discriminatórias, no apoio dos Estados aos
cidadãos.“Um dos grandes problemas num
futuro próximo vai ser o da mobilidade das pessoas”, disse Vitorino,
mencionando as preocupações das autoridades sanitárias na procura de
bloqueio da propagação do novo coronavírus.E
as restrições de mobilidade afetam, inevitavelmente, os milhões de
migrantes que ficam em situação mais difícil com esta pandemia.“Em
vez de ter diminuído, o fluxo de migrantes entre África e a Europa
aumentou, nos últimos meses”, explicou o diretor da OIM, acrescentando
que se verificou mesmo um fluxo nos dois sentidos, com alguns migrantes a
tentar regressar aos seus países de origem, perante os sinais de
agravamento da crise sanitária.Na
conferência, que teve um auditório presencial nas instalações do
Instituto Camões, mas que foi transmitida por vídeo, António Vitorino
está particularmente preocupado com o facto de alguns países não se
demonstrarem capazes de lidar com o controlo da mobilidade em tempos de
pandemia, aumentando o fosso entre os mais e os menos desenvolvidos.Vitorino salientou ainda a forma como alguns países deixaram os migrantes ilegais fora dos sistemas de saúde.“Singapura,
por exemplo, não considerou os imigrantes ilegais como cidadãos aptos a
serem acolhidos pelos sistemas sanitários”, exemplificou o dirigente da
OMI, para dizer que esta questão discriminatória afeta muitos outros
países e está a ter um impacto negativo no combate à pandemia.“Em Singapura, muitos dos surtos da pandemia ocorreram exatamente nas comunidades de migrantes ilegais”, explicou Vitorino.O
diretor-geral da OIM salientou o esforço das organizações
internacionais no combate à pandemia, procurando exatamente centrar o
seu apoio nas diferentes comunidades de migrantes, com vários milhões de
dólares.Muito deste dinheiro, contudo, está a ser retirado do programa Agenda 20-30, comprometendo os objetivos deste projeto.“O
esforço financeiro que está agora a ser feito vai, certamente,
prejudicar o programa Agenda 20-30 no final desta década”, reconheceu
António Vitorino.No Instituto Camões
esteve presente a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas,
Berta Nunes, que questionou Vitorino sobre as lições que se podem tirar
desta pandemia, no seu impacto nos migrantes.“Tenho
mais dúvidas do que certezas, sobre essa matéria”, respondeu Vitorino,
dizendo que é importante que esta pandemia não deixe ninguém para trás,
nomeadamente os imigrantes.“Boris Johnson
[o primeiro-ministro britânico] deu um bom contributo para isso, quando
reconheceu que a sua vida tinha sido salva por dois imigrantes, técnicos
de saúde, um português e uma neo-zelandesa”, disse Vitorino,
referindo-se ao primeiro-ministro britânico.Mas
o diretor-geral da OIM referiu ainda o esforço que alguns países, como a
Itália, estão a aproveitar esta ocasião de crise sanitária para
regularizar a situação de milhares de imigrantes ilegais.