Pandemia trouxe inovações tecnológicas e novos riscos
17 de ago. de 2020, 15:37
— Lusa/AO online
Com
a adoção em larga escala por empresas e organismos estatais de
plataformas tecnológicas para o teletrabalho, aulas e outros serviços, a
Interpol registou um aumento considerado alarmante durante os primeiros
quatro meses do ano.Os criminosos
aproveitaram as falhas de segurança para roubar dados, dinheiro ou
criando perturbações, como atestam os números registados entre janeiro e
abril, em que foram denunciados àquela força mais de 48 mil episódios
de instalação e vírus informáticos.No meio
dos países que adotaram aplicações de rastreio de contactos, a Coreia
do Sul foi um dos primeiros a aplicá-las mas também um dos primeiros a
ver as suas vulnerabilidades.A postura
“agressiva” do país na saúde pública digital aliada à pressa de adotar
uma aplicação de rastreio deixou para trás “uma verificação de segurança
da aplicação, que atrasaria a sua adoção”, admitiu um responsável do
Ministério do Interior sul-coreano em declarações ao jornal New York
Times.Embora não tenha havido queixas, a
primeira versão da aplicação, cujas falhas de segurança foram entretanto
corrigidas em julho, deixava caminho aberto para piratas informáticos
poderem recolher nomes e localização em tempo real, bem como falsificar
informação sobre se tinham respeitado ou violado a quarentena a que
estivessem obrigados.A Organização Mundial
de Saúde tem reiteradamente afirmado que as aplicações de rastreio de
contactos podem ajudar, mas apenas de forma complementar a políticas de
saúde pública mais vastas, como a testagem e deteção rápidas, quarentena
de doentes e pessoas que com eles estiveram em contacto e medidas de
distanciamento físico e higiene disseminadas por toda a sociedade.Outra
recomendação recorrente da agência das Nações Unidas é a transparência
por parte dos decisores, única maneira de ganhar a confiança dos
cidadãos, quer para a adesão a sistemas de rastreio de contactos, quer
para o resto das medidas de saúde pública No
caso da portuguesa STAYWAY covid, desenvolvida pelo Instituto de
Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência INESC TEC,
um parecer da Comissão Nacional de Proteção de Dados alertou para riscos
da aplicação, baseada no sistema de notificação de exposição criado
pelas multinacionais Apple e Google. Uma
“parte crucial” dos dados não seria controlada pelos autores da
aplicação em Portugal ou pelos responsáveis pelo tratamento e proteção
de dados, salientou a comissão, acrescentando que o sistema de
notificação GAEN pode ser modificado pelas empresas unilateralmente, com
efeitos desconhecidos sobre os direitos dos utilizadores.Os
utilizadores da aplicação portuguesa serão notificados quando tiverem
estado em contacto com alguém infetado com covid-19, a uma proximidade
inferior a dois metros e durante mais de 15 minutos, nas 48 horas
anteriores.Hoje, o Governo anunciou que a
aplicação está em fase piloto tendo-se iniciado os testes de segurança
que deverão estar terminados dentro de duas semanas.Para
ativar aplicação no telemóvel, é preciso introduzir um código que é
dado por um profissional de saúde habilitado para isso pela
Direção-Geral da Saúde.Depois de revista, a
aplicação acabou por ficar regulada num decreto-lei do Governo de 23 de
julho, em que ficou estabelecida a obrigatoriedade de esta respeitar a
legislação sobre proteção de dados e cibersegurança.Tem
características semelhantes à aplicação usada na Alemanha, descarregada
por mais de 16 milhões de pessoas, quase 20 por cento, enquanto a
Irlanda é o país europeu com a maior percentagem de utilizadores, cerca
de 37%. Apesar de centrais no esforço de
combater a pandemia, as aplicações de rastreio não são a única
tecnologia nascida de necessidades criadas pela covid-19: uma empresa de
Coimbra a criar em maio passado uma aplicação para telemóveis que
permite aos inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras fazer
controlos de fronteira sem precisarem de contacto físico, lendo e
validando dados dos documentos de identificação sem lhes tocar.No
auge da pandemia, com unidades de cuidados intensivos e hospitais
sobrecarregados, o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Matosinhos
(CEiiA) pôs mãos à obra e desenvolveu em 45 dias o primeiro ventilador
respiratório produzido em Portugal, que em julho recebeu autorização
para utilização hospitalar.O projeto do
ventilador Atena foi um dos exemplos de colaboração entre investigadores
e empresas em Portugal, tal como a máscara, MoxAd-Tech, a primeira
máscara têxtil e reutilizável com capacidade para inativar o novo
coronavírus.O que a distingue é ter um
revestimento que neutraliza o vírus quando entra em contacto com o
tecido, um efeito que se mantém mesmo após dezenas de lavagens, como
atestou o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes.No
Campus de tecnologia e Investigação de Oliveira do Hospital, surgiu no
fim do mês passado uma tecnologia pioneira que usa comprimentos de onda
mais potentes do que a radiação solar e que consegue eliminar 100% das
partículas do novo coronavírus no ar em cinco minutos.Os
investigadores consideram que a tecnologia, que só precisa de energia
elétrica, pode ser útil na proteção de profissionais de saúde ou
tripulantes de transportes terrestres ou aéreos.Outra
colaboração entre académicos, militares e académicos portugueses
resultou num protótipo de câmara de descontaminação a seco para permitir
a reutilização de máscaras respiratórias usadas pelos profissionais de
saúde, usando um descontaminante gasoso baseado em nanopartículas que
destrói o vírus sem danificar o material das máscaras.