Pandemia provocou atraso nos esforços de proteção dos oceanos. diz conselheiro ONU
25 de abr. de 2022, 12:04
— Lusa /AO Online
O responsável falava num seminário que se realizou na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) sobre a 2ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que vai decorrer entre 27 de junho e 1 de julho em Lisboa. “Estamos a enfatizar o facto de que demos alguns passos na direção errada por causa da pandemia e estamos mais atrasados do que estávamos antes da pandemia”, afirmou o responsável em resposta à Lusa. “Como tal, a nossa análise é de que precisamos de escalar as nossas ambições e ações para recuperar o atraso e atingir as diferentes metas do Objetivo 14”, frisou, referindo-se à meta da agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável que enquadra os esforços de proteção da vida marinha. “Quando começámos a trabalhar nos documentos e conceitos que vão servir como enquadramento das discussões, uma das coisas que fizemos e os estados-membros nos pediram para fazer foi introduzir os impactos da pandemia e como isso muda a equação, como teve impacto no nosso progresso, em termos da implementação do Objetivo 14”, indicou Sérgio Carvalho.No que respeita à guerra na Ucrânia, o conselheiro considerou ser “muito cedo para ter uma análise apropriada e rigorosa”, embora reconhecendo que um dos efeitos óbvios é desviar as atenções do tema das alterações climáticas. Ainda assim, Sérgio Carvalho lembrou a posição de António Guterres, secretário-geral da ONU, que “tem sido forte em relação à guerra e à necessidade de acabar com ela” mas também reiterou a necessidade de continuar a prestar atenção ao que apelidou no passado de “guerra da humanidade contra a natureza.”“A nossa mensagem será de que sim, há outras questões que são urgentes mas não podemos perder esta guerra da sobrevivência do planeta”, indicou o conselheiro.No seminário, organizado com o apoio do Consulado Geral de Portugal em São Francisco, falaram também Ana Brazão, gestora de projeto da Fundação Oceano Azul, Stephan Morais, sócio gerente da Indico Capital Partners, e James C. McWilliams, professor do departamento de Ciências Atmosféricas e Oceânicas do Instituto do Ambiente e Sustentabilidade da UCLA.“A Europa está no meio de uma transição verde, e no meio de uma transição azul”, disse Stephan Morais. “Portugal tem estado na linha da frente da promoção de uma economia azul sustentável.”A Indico Capital lançou em janeiro um fundo de 50 milhões de euros dedicado à sustentabilidade dos oceanos, que tem investidores em todo o mundo e está focado em áreas como a biotecnologia marinha, o transporte marítimo sustentável e a pesca sustentável, entre outras. “Os problemas climáticos só irão ser resolvidos com tecnologia sustentável”, considerou. Também Ana Brazão referiu a importância vital da inovação na biotecnologia marinha para atingir os objetivos a que a comunidade internacional se propôs. “Acreditamos que, para mudar a economia, temos de responder ao desafio fundamental de perceber como dissociar os recursos naturais das matérias-primas”, considerou. “Isto precisa de acontecer através da inovação”, disse, referindo questões como a escassez de alimentos, a distribuição sustentável, o desenvolvimento de novos processos industriais e de materiais alternativos aos plásticos que sejam biodegradáveis. Este foi o foco da apresentação do professor James C. McWilliams, que se debruçou sobre o problema da poluição e contaminação da vida marinha por microplásticos, mostrando imagens da grande mancha de lixo do oceano pacífico. “O remédio verdadeiro é descontinuar o uso de plásticos”, afirmou. O cônsul-geral de Portugal em São Francisco, Pedro Pinto, disse ainda no seminário que “as crises planetárias requerem ação global” e que a Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa terá o propósito de coordenar essa ação. “O mar está nos genes dos portugueses, dada a nossa história, mas também a gastronomia, economia e até poesia”, afirmou Pedro Pinto. “A diplomacia portuguesa reflete esta ligação com o oceano, dando uma importância estratégia à diplomacia azul, que está relacionada com as questões dos oceanos”. O cônsul citou a posição de António Guterres, que disse que os oceanos estão no eixo de três crises planetárias: as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e poluição e desperdício.Esta 2ª conferência devia ter acontecido em 2020, mas foi adiada por causa da pandemia. Segundo Sérgio Carvalho, o foco será nas “soluções transformadoras” que estão a endereçar os desafios e a ciência e inovação por detrás delas. Da conferência irá sair uma declaração política, que está agora a ser negociada, diálogos interativos para promover soluções e parcerias, e compromissos voluntários focados nas metas do Objetivo 14.