Pandemia pressionou contas dos municípios mas sem induzir aumento da despesa
Covid-19
6 de jan. de 2023, 12:08
— Lusa/AO Online
No
relatório onde analisa o impacto da pandemia nas contas de 2020 dos 278
municípios do continente, o TdC destacou que a crise sanitária afetou o
desempenho orçamental e financeiro destas autarquias, que viram reduzir
as suas receitas próprias e aumentar as despesas.No
entanto, sublinhou que estas autarquias também obtiveram nesse período
mais transferências do Orçamento do Estado e da União Europeia e
realizaram menos gastos, devido ao encerramento de serviços e de
instalações municipais e à suspensão de atividades.O TdC destacou que esta é uma perspetiva global, verificada na maioria dos municípios, mas com assimetrias. Desde
logo, nos municípios de grande dimensão, como os localizados na Área
Metropolitana de Lisboa (Almada, Amadora, Cascais, Lisboa, Loures,
Oeiras, Odivelas, Sintra ou Vila Franca de Xira), o impacto da pandemia
nas receitas e nas despesas foi sentido “de forma mais intensa”, por
serem mais populosos, “com maior potencial de perda de receita e pressão
para a realização de despesa”.Em termos
gerais, segundo o TdC, a adoção de medidas locais e a retração da
atividade económica pressionaram os orçamentos municipais que, na ótica
de caixa, tiveram uma quebra de -1% na receita e um aumento de +3% da
despesa, um “‘efeito tesoura’ que provocou uma erosão do saldo em
comparação com os exercícios anteriores”.A
quebra das receitas próprias municipais notou-se, sobretudo, na
cobrança de taxas associadas a bens e serviços prestados pelos
municípios (-240,1 milhões de euros) e outras receitas correntes (-17,0
milhões de euros), mas também houve diminuição da arrecadação de
impostos locais, como o Imposto Municipal sobre a Transmissão Onerosa de
Imóveis (IMT), que decresceu -35,8 milhões de euros.Em
conjunto, os municípios estimaram uma despesa global de cerca de 240
milhões de euros na resposta à pandemia, quando “mobilizaram bens,
serviços ou recursos financeiros” para apoiar a população em geral,
“maioritariamente classificadas em despesas de funcionamento como a
aquisição de bens e serviços e transferências e subsídios concedidos”.Segundo
o relatório, é “evidente” explicar com o contexto de emergência a
variação da receita e da despesa em 2020, mas esta “tem de ser colocada
em perspetiva”, até porque os dados orçamentais e financeiros
disponíveis demonstram que as contas dos municípios tiveram “um
comportamento resiliente, não ficando tão expostas aos efeitos da crise
como outras entidades ou subsetores da administração pública”.Em
termos globais, “a quebra significativa das receitas próprias foi, em
grande medida, compensada com o aumento das transferências recebidas do
Orçamento do Estado e da União Europeia, fator alheio à pandemia, que
permitiu à maior parte dos municípios (193 ou 69%) enfrentar 2020 com
mais receita do que a que detinha antes da emergência sanitária”.Por
outro lado, as restrições à circulação e aos contactos sociais levou ao
encerramento de serviços e de instalações e equipamentos municipais e à
suspensão de atividades, o que teve expressão orçamental “com a
diminuição da aquisição de bens e serviços correntes (-132,3 milhões de
euros), assim como nas outras despesas correntes (-50,6 milhões de
euros), e ainda em outras componentes das despesas com pessoal (-18,3
milhões de euros)”.“Isto é, apesar dos
montantes despendidos com a aquisição de bens e serviços, designadamente
equipamentos de proteção individual ou outras ações logísticas, a
redução da atividade municipal acabou por ter um efeito de retração
nessas rubricas”, é salientado.O relatório
indicou ainda que, apesar da pressão nos orçamentos causada pelas
medidas de resposta à covid-19, “a suspensão de atividades correntes dos
municípios diminuiu a necessidade de outros grandes dispêndios, razão
pela qual, em 2020, em termos globais a pandemia não parece ter induzido
um crescimento da despesa municipal”.Segundo
o TdC, este crescimento da despesa “encontrará maior justificação em
fatores extra pandémicos, como o crescimento das remunerações certas e
permanentes das despesas com pessoal (+90,3 milhões de euros) e,
sobretudo, da aquisição de bens de capital (+185,8 milhões de euros)”.No
relatório é sublinhado ainda que, apesar da crise sanitária, em 2020 o
número de municípios em desequilíbrio orçamental reduziu de 37 para 15
(oito deles já estavam em desequilíbrio e sete juntaram-se neste ano a
essa lista) e a maioria dos municípios (211 ou 76%) aumentou o seu saldo
corrente.Também em relação à evolução do
endividamento, o número de municípios com excesso de endividamento
“diminuiu (de 20 para 16, que já estavam em dificuldades antes da
pandemia) e uma larga maioria (216 ou 78%) aumentou as suas margens de
endividamento”.Esta análise ao efeito das
medidas contra a covid-19 nas contas dos municípios em 2020 será seguida
por outras relativamente a 2021 e 2022, segundo o TdC, que salientou
ainda que o reporte de informação pelos municípios nos Relatórios de
Gestão tinha, em muitos casos, “deficiências várias”, como a falta de
critérios uniformes de quantificação e divulgação, “o que prejudicou a
obtenção de conhecimento integral e comparável”.