Panamá queixa-se à ONU das ameaças de Trump sobre o canal

22 de jan. de 2025, 12:52 — Lusa/AO Online

Numa carta enviada a Guterres, a missão do Panamá na ONU afirmou que as declarações de Trump “são motivo de preocupação”.O Panamá referiu que a Carta das Nações Unidas proíbe qualquer membro de “ameaçar ou usar a força” contra a integridade territorial ou a independência política de outro membro.“Solicitamos os vossos bons ofícios para transmitir esta comunicação aos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, do qual o Panamá é membro desde 01 de janeiro, disse o Governo na carta enviada a Guterres.A missiva, citada pela agência francesa AFP, foi distribuída à imprensa pelo Governo do Panamá.No discurso de posse, na segunda-feira, Trump repetiu a ameaça de retomar o controlo do Canal do Panamá, que disse ser controlado pela China.O Canal do Panamá, uma via navegável entre os oceanos Atlântico e Pacífico, foi construído pelos Estados Unidos e inaugurado em 1914.O canal foi transferido para o Panamá em 1999.“Fomos muito maltratados por este presente sem sentido que nunca deveria ter sido feito. A promessa que o Panamá nos fez não foi cumprida”, disse Trump, afirmando que os navios norte-americanos são “severamente sobretaxados”.“Acima de tudo, a China opera o Canal do Panamá e não o demos à China, demos ao Panamá. E vamos recuperá-lo”, afirmou, sem especificar como.O Presidente do Panamá, José Raul Mulino, respondeu ao homólogo norte-americano durante uma mesa-redonda no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, rejeitando os argumentos de Trump.“Rejeitamos na totalidade tudo o que o senhor Trump disse, em primeiro lugar porque é falso e, em segundo lugar, porque o Canal do Panamá pertence ao Panamá e continuará a pertencer ao Panamá. O Canal do Panamá não foi uma concessão ou uma dádiva dos Estados Unidos”, afirmou.Mulino disse que o Panamá não se deixará distrair pelo tipo de declarações de Trump, que disse estar mal informado sobre a realidade.Reiterou também que os Estados Unidos não podem “simplesmente contornar o direito internacional” para impor a sua vontade.Mulino negou anteriormente qualquer interferência de outro país no funcionamento do canal, que disse ser operado com base num princípio de neutralidade.Questionado em Davos por um jornalista sobre o risco de os Estados Unidos invadirem o Panamá, Mulino respondeu duas vezes em inglês, visivelmente irritado: “Be serious! [Seja sério]”.Em Pequim, e em resposta a uma pergunta sobre o canal, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, afirmou que a China “nunca interferiu” nas questões relacionadas com o Canal do Panamá.“A China não participou na gestão e operação do canal, nunca interferiu em assuntos relacionados com o canal e respeita a soberania do Panamá sobre o canal, reconhecendo-o como uma via marítima internacional de neutralidade permanente”, respondeu Mao.A porta-voz acrescentou que a soberania e a independência do Panamá “não estão sujeitas a negociação” e o canal “não deve estar sujeito a qualquer controlo direto ou indireto por parte das grandes potências”.Quarenta por cento do tráfego norte-americano de contentores passa pelo canal, sendo os Estados Unidos o principal utilizador da infraestrutura, seguidos da China.