Palhacinhos Felizes levam sorrisos às crianças internadas
Hoje 09:29
— Ana Carvalho Melo
Este Natal, 45 pequenos palhacinhos de tecido vão ganhar um destino
especial: serão oferecidos às pediatrias dos três hospitais dos Açores
com o objetivo de levar cor, sorrisos e conforto às crianças internadas
nesta época festiva.A iniciativa faz parte do projeto Palhacinho
Feliz, que nasceu da vontade de Natália Saraiva, sobrevivente de cancro
no pâncreas, em reciclar tecidos e transformá-los em gestos de carinho.“Fui
muito bem tratada no hospital e passei lá o Natal. Ver as crianças
internadas tocou-me profundamente. Quis fazer algo para lhes levar um
bocadinho de alegria e cor”, recorda Natália Saraiva, que há 11 anos
superou uma das doenças mais difíceis: o cancro do pâncreas.Após a
cirurgia realizada no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta
Delgada, esta faialense não pôde voltar à vida ativa e passou a
dedicar-se ao artesanato como forma de gratidão e superação. Em casa, entre linhas, agulhas e pedaços de roupa usados, encontrou a inspiração para começar algo novo. “Sou uma sobrevivente”, afirma com serenidade.Juntamente
com as amigas Valentina Mendonça, Fátima Silva e Olívia Ávila, formou o
grupo “Reformadas mas ativas”. O projeto começou com a intenção de
fazer apenas uma dúzia de palhacinhos, mas rapidamente cresceu e o
entusiasmo levou-as a criar 45 bonecos, todos diferentes, assim como é
cada criança que precisa de cuidados hospitalares, mas com um detalhe em
comum: o nariz vermelho.Essa característica tem uma história
especial. Todos os narizes foram feitos a partir da mesma t-shirt,
oferecida por uma jovem com deficiência que quis participar no projeto. “Ela
veio entregar-ma à porta e disse que queria que os narizes fossem
feitos com essa camisola. Isso tocou-me muito. São todos iguais por isso
- e também porque me recordam os enfermeiros que, quando eu estava
internada, usaram um nariz vermelho para me cantar os parabéns em voz
baixinha”, conta com emoção.Todo o trabalho assenta na reciclagem e
reaproveitamento de materiais: roupas antigas das suas filhas e
oferecidas por outras pessoas, plumante de peluches antigos e restos de
lãs usadas transformam-se em palhacinhos coloridos, sendo a cola o único
material comprado.Desta forma Natália Saraiva acredita estar também
a contribuir para a promoção da a reutilização de materiais têxteis,
reduzindo o desperdício.Este Natal, os Palhacinhos Felizes vão
espalhar-se pelos três hospitais dos Açores, testemunhando que a
solidariedade e a arte podem costurar esperança. Para Natália Saraiva,
cada ponto é um ato de gratidão. “Ser doente oncológica não é o fim.
Somos sobreviventes e temos de ser ativos, fazer algo que nos anime e
que dê sentido à vida. Eu faço isto com muito amor, por mim e pelos
outros”, afirma.