Países mais ricos já reservaram metade das futuras doses de vacinas
Covid-19
17 de set. de 2020, 11:57
— Lusa/AO Online
O objetivo destes países, que
incluem os Estados Unidos (EUA), Reino Unido, UE e Japão, é garantir o
fornecimento junto de múltiplos concorrentes, na esperança de que pelo
menos uma das vacinas em estudo se revele eficaz, uma política que
agrava as dificuldades que a maior parte da população mundial terá para
conseguir vacinas, de acordo com o relatório, divulgado na quarta-feira.Em
maio, os EUA assinaram vários contratos para garantir a produção e
entrega de vacinas, caso os ensaios clínicos em curso sejam bem
sucedidos, já a partir de outubro, podendo ser distribuídas no prazo de
24 horas, após autorização sanitária.A
empresa farmacêutica AstraZeneca, parceira da Universidade de Oxford,
assinou a maioria destes contratos, mas a Sanofi, Pfizer, Johnson &
Johnson, a empresa norte-americana de biotecnologia Moderna, o
laboratório Sinovac na China e o instituto russo Gamaleia também
venderam centenas de milhões de doses em todo o mundo, por vezes em
parceria com fabricantes locais.Segundo a
Oxfam, já foram assinados contratos com cinco destes fabricantes na fase
3 de ensaios clínicos para 5,3 mil milhões de doses, 51% dos quais para
países desenvolvidos, incluindo, além dos EUA, Reino Unido, UE e Japão,
também Austrália, Hong Kong, Suíça e Israel. Os números não incluem
compras a fabricantes que estão ainda em fases inferiores no
desenvolvimento de vacinas.O restante foi
prometido à Índia (sede do gigantesco fabricante Serum Institute of
India), Bangladesh, China, Brasil, Indonésia e México, de acordo com a
Oxfam.Os Estados Unidos, com 330 milhões
de habitantes, reservaram um total de 800 milhões de doses junto de seis
fabricantes, enquanto a UE, com 450 milhões de habitantes, comprou pelo
menos 1,5 mil milhões de doses, de acordo com uma contagem da agência
de notícias France-Presse (AFP)."O acesso
vital às vacinas não deve depender de onde se vive ou de quanto dinheiro
se tem", criticou um responsável da Oxfam, Robert Silverman.A
Oxfam também denunciou o boicote dos Estados Unidos a um mecanismo de
mutualização internacional de vacinas apoiado pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), que carece de financiamento para poder oferecer
imunização em países em desenvolvimento. Há
uma semana, o secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou que a
OMS precisa de 35 mil milhões de dólares (29,3 mil milhões de euros)
para os programas de desenvolvimento e distribuição de vacinas,
tratamentos e diagnósticos contra a covid-19. Em
maio, a OMS criou o programa ACT Accelerator, com apoio da UE, para
financiar investigações sobre respostas médicas à pandemia e,
posteriormente, distribuí-las em países sem poder aquisitivo.No
entanto, o organismo só conseguiu arrecadar menos de 10% do total
necessário para garantir o acesso às vacinas dos países em
desenvolvimento, três mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros).Pelo
menos 15 mil milhões de dólares (12,6 mil milhões de euros) vão ser
necessários nos próximos três meses "para não perder a janela de
oportunidade e potenciar o uso das novas vacinas" contra a covid-19 que
tiverem sucesso, sublinhou Guterres.Nessa
altura, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e a
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que participaram
numa reunião do conselho do programa ACT Accelerator, recordaram que, se
a pandemia não for travada nos países em desenvolvimento, poderá
regressar aos desenvolvidos, ainda que haja vacinas e melhores terapias.