Pais revoltados exigem justiça. “Vimos horrores”
30 de mai. de 2025, 17:12
— Nuno Martins Neves
“Nós vimos horrores, senhor, horrores”. Foi assim que Lisandra, mãe de
uma das crianças que foi vítima de maus tratos pelas funcionárias do
Centro de Apoio à Criança n.º 1 da Casa do Povo de Rabo de Peixe (CPRP),
descreveu as imagens que viu. O Açoriano Oriental falou com alguns
encarregados de educação que têm as suas crianças na instituição e todas
pedem justiça para os seus filhos e filhas.“Eu e o meu marido não
tocamos num fio de cabelo de nenhum dos nossos três filhos. Eé muito
triste vermos umas imagens das senhoras da creche a puxar os cabelos do
meu filho para ele comer”.A raiva na sua voz treme quando recorda
que o seu filho tinha tentado explicar o que se passava na creche.
“Quando ele chegava a casa, dizia que a funcionária lhe dava na cara. E
eu e o meu marido levávamos na brincadeira, porque a funcionária,
fingida, dava pancadinhas na testa do meu filho, a brincar. E eu acabei
de ver essa funcionária, numa câmara, a puxar os cabelinhos com tanta
força que até o pescoço veio para trás”.Sónia, mãe da menina
autista, conta como sentiu que a sua criança começou a ter
comportamentos estranhos, de um momento para o outro.“A minha menina
não fala e na hora de dormir, se eu e o pai falávamos um pouco mais
alto, ela atirava-se do berço e cobria a cabeça, fugia para um canto.
Uma vez, a minha filha apareceu com nódoas negras em casa, fui perguntar
às auxiliares e a desculpa foi que ela se tinha magoado no dormitório e
não sabiam ao certo o que tinha acontecido”.Uma desculpa que,
depois do que viu nas imagens, não cola mais. “Que competência tem essas
auxiliares para trabalhar numa creche? Os nossos filhos são
inocentes,estamos a trabalhar descansadas sem saber o que lhes estão a
fazer”.Lisandra recorda que as imagens apenas mostraram o que
acontecia na zona do refeitório. “E no dormitório?E nas casas de banho?
Lá não há câmaras! O meu menino, quando começou a frequentar a creche,
começou a ter queixas no rabo. “mãe, mãe, cuidado, cuidado, dói, dói”.
Ele tinha já pânico que eu lhe limpasse o rabinho e eu usava carícias!
Ainda esta semana, ele teve queixas. Quem me garante que não são as
funcionárias que limpam com agressividade?”.Incrédulas, as mães e
pais ouvidos pelo Açoriano Oriental não conseguem compreender “como é
possível acontecer algo assim nos dias de hoje”.Mas garantem que
querem que seja feita justiça:“Elas têm de ser retiradas de trabalhar
com crianças”, refere Sérgio, pai de um menino. Lisandra concorda,
avisando que se assim não for “vamos fazer uma revolução em Rabo de
Peixe.E vai mais longe, questionando a decisão do tribunal em
readmitir as funcionárias. “Como é que um juiz toma uma decisão depois
de ver um trabalho destes? Nota-se que são agressoras. E sabem muito bem
fazer as coisas, pois à frente dos pais são um amor”.O Açoriano
Oriental também ouviu a representante dos pais das creches da CPRP, que
também questionou a decisão de colocar as funcionárias acusadas noutras
valências da instituição, algo que está a causar desagrado junto dos
pais, que receiam pelos seus filhos.