"País passou a existir no dia em que foi invadido"
Ucrânia
18 de abr. de 2022, 14:53
— Lusa/AO Online
"Garantir uma Ucrânia
independente é fundamental, é a nova fronteira da Europa com a Rússia,
porque a Ucrânia passou a ser um país europeu, e é preciso consolidar
essa posição, e depois garantir que o Presidente [russo, Vladimir] Putin
não ganhe a guerra, mesmo que declare vitória", disse o especialista em
Relações Internacionais durante a sua intervenção no Fórum "Os Desafios
do Desenvolvimento - O Futuro da Relação Estatal".Organizado
pelo Fórum de Integração Brasil Europa (FIBE), e a decorrer até
quinta-feira em Lisboa, este painel debruçou-se sobre a guerra na
Ucrânia, com Carlos Gaspar a defender que é essencial "haver uma linha
de demarcação estável entre a Ucrânia e a Rússia, que embora não se
saiba qual será, deverá ser tão estável como o muro de Berlim".Para
o professor Samuel Paiva, do ISCSP (Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa), a verdadeira razão da
invasão da Ucrânia pela Rússia explica-se por razões de política interna
russa, sendo "propaganda" as explicações que apontam para a
desnazificação da Ucrânia ou a proteção dos russófonos."Depois
do pico de popularidade no seguimento da anexação da Crimeia, cada vez
que Putin avança com uma operação militar especial, tem um pico de
popularidade doméstica e nos últimos anos houve declínio da popularidade
e um aumento da contestação interna por parte dos opositores",
enquadrou o professor, acrescentando que "o grande receio de Putin é a
própria natureza da democracia liberal, e a implementação de um sistema
destes na Ucrânia, o que poderia levar a sociedade russa a pensar que
estão a fazer alguma coisa de errado e que o país devia desenvolver-se
desta maneira".Apesar das fraquezas, "os
regimes liberais são, ainda assim, os mais estáveis e a zona de paz
liberal tem-se revelado nesta reação contra a Rússia, pelo que me parece
que as notícias sobre o fim da ordem internacional liberal são
manifestamente exageradas", concluiu o professor, antes de a assistência
ouvir o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado defender
que "houve displicência por parte dos líderes políticos, porque há
muitos anos que se percebia o que aí vinha se a expansão da NATO para a
Ucrânia e Geórgia se confirmasse".Para o
antigo governante socialista, esta crise geopolítica é francamente mais
grave que as crises financeiras ou económicas: "Ninguém sabe controlar
uma crise geopolítica, uma crise financeira ou económica, nós sabemos,
mas uma crise geopolítica não, porque as forças que se liberam são
incontroláveis", concluiu.O Fórum de
Integração Brasil Europa (FIBE), que decorre até quinta-feira em Lisboa,
coloca em discussão os caminhos rumo ao bem-estar económico e social
por meio das transformações impostas pela revolução digital, a pandemia
da Covid-19 e a guerra europeia.A ofensiva
militar da Rússia na Ucrânia já matou quase dois mil civis, segundo
dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito
maior.A guerra causou a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para os países vizinhos.A
invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade
internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o
reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.