Ovos podem substituir ensaios com técnicas invasivas em mamíferos
27 de nov. de 2017, 11:32
— Lusa/AO online
O novo equipamento – Sistema de Alojamento Modular de Aves –
já com pedido de patente internacional submetido, aloja “codornizes
poedeiras em condições experimentais, personalizado para
investigação e desenvolvimento de soluções biomédicas baseadas
no potencial biotecnológico dos seus ovos”, refere a UC.
Alinhado com as diretivas europeias e com a “política dos três
‘rr’ (reduzir, reutilizar e reciclar)”, o sistema permite “a
investigação e desenvolvimento de novos biofármacos e produtos de
diagnóstico biomolecular, nomeadamente vacinas e anticorpos”.
Estes produtos são “a base para o desenvolvimento de terapias
de combate a infeções bacterianas, fúngicas ou virais, de
alternativas aos antibióticos tradicionais e de métodos inovadores
de diagnóstico de doenças”.
A criação de compostos derivados do ovo e suplementos para
soluções farmacêuticas também poderão ser explorados, acrescenta
a UC.
Ricardo Vieira-Pires, investigador e coordenador da unidade
experimental de aves do CNC, explica que este equipamento “é único
em Portugal” e, tanto quanto sabe, no resto da Europa.
“Estamos interessados na capacidade natural das aves em acumular
anticorpos na gema dos seus ovos e na sua valorização”, sublinha
o investigador, referindo que “a codorniz é a ave de eleição
para uma investigação que precisa de customizar e processar os
anticorpos de forma versátil, algo que não é tão linear com ovos
de outras aves”.
A tecnologia de base utilizada recolhe anticorpos da classe
imunoglobulina Y (IgY), equivalente à imunoglobulina da classe G
humana com propriedades imunológicas de defesa do organismo,
incorporados especificamente na gema de ovos, explica a UC, referindo
que “a abordagem é conhecida há mais de 100 anos como forma de
produzir anticorpos terapêuticos com propriedades neutralizantes”.
O investigador, citado pela UC, esclarece que, deste modo, basta
“recolher ovos”, eliminando-se “a necessidade de colher sangue
do animal, como acontece para todos os outros casos que recorrem a
ratinhos, coelhos ou cabras”.
Uma galinha “produz até cinco vezes mais anticorpo que um
coelho ao fim de um ano, e apenas se tem que recolher ovos
diariamente, ao contrário de recolher 40/50 mililitros de sangue a
cada 15 dias”, exemplifica Ricardo Vieira-Pires, indicando que o
novo sistema “permite a utilização de codorniz em ensaios
preliminares que serão num segundo momento reproduzidos em galinha”.
O projeto foi financiado por fundos nacionais e europeus,
designadamente através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia
(FCT) e dos programas operacionais Fatores de Competitividade
(COMPETE) e Regional do Centro (no âmbito do Quadro de Referência
Estratégico Nacional 2007-2013) e do Projeto CNC Biotech
(investigação em biotecnologia e capacitação do setor
empresarial).