Ouro e poema "Havemos de ir a Viana" inspiram tapete em honra da Senhora da Agonia
13 de ago. de 2019, 16:25
— Lusa/AO Online
Na "noite dos tapetes", como é
localmente conhecida, os 150 metros de comprimento e três de largura da
rua Góis Pinto, vai ser coberta com cerca 15 toneladas de sal, tingido
de amarelo e azul."O amarelo vai dar cor
aos desenhos que retratam o ouro que as nossas mordomas carregam ao
peito e o azul, o nosso mar e o Traje de Dó (utilizado em momentos de
luto familiar, ou quando algum familiar ia para o estrangeiro,
simbolizando a dor pela separação)", explicou à Lusa Miguel Lima.Pelo
meio, encaixarão "excertos" do poema de Pedro Homem de Melo. Os moldes,
em papel, com partes do texto de "Havemos de ir a Viana", que a fadista
Amália Rodrigues imortalizou, serão colocados no pavimento e
preenchidos com sal "dourado e azul".Os temas escolhidos para o tapete deste ano "foram sendo pensados, meses antes, na troca de ideias entre os moradores da rua". A
confeção dos tapetes de sal em seis ruas da ribeira de Viana realiza-se
sempre na noite anterior ao dia da padroeira, 20 de agosto, feriado
municipal, mobilizando centenas de pessoas, sobretudo moradores daquela
zona da cidade. No total, segundo números
da VianaFestas, entidade que organiza a Romaria d' Agonia, são
utilizadas mais de 30 toneladas de sal na confeção dos tapetes.Como
manda a tradição, é por estes tapetes que o andor da Senhora d' Agonia
irá passar no regresso da também típica procissão ao mar e ao rio.Operário
fabril, Miguel Lima, 30 anos, é o responsável por uma "equipa" de 10
pessoas que vai confecionar o tapete da Gois Pinto. A rua onde nasceu,
cresceu e recebeu "dos pais e dos avós" o "testemunho" de uma tradição
que, nos dias que antecedem o início da Romaria d'Agonia, na
sexta-feira, mobiliza as gentes da ribeira."A nossa rua é a principal. As outras cruzam-se com a nossa. É como um rio e seus afluentes", exemplificou.Miguel
Lima começou a participar na tradição "ainda pequeno", tal como os
quatros irmãos. Na "noite dos tapetes", que começa cerca das 21:00 do
dia 19 e termina cerca das 09:00, do dia seguinte, à "equipa inicial
juntam-se familiares e amigos, e o grupo aumenta para as três dezenas de
pessoas"."É um convívio que se estende
aos passeios onde as centenas de pessoas vão observando a confeção do
tapete, cantando e dançando", explicou.Aquele
número atrai milhares de forasteiros que se perdem pelas tasquinhas da
ribeira, animadas durante toda a madrugada com concertinas e cantares ao
desafio.Ao ambiente "único" que se vive
naquela noite, acresce a "chieira" (significa orgulho e vaidade) "em ser
da ribeira e fazer parte de uma tradição tão importante da cidade"."Todos
gostamos de fazer a rua mais bonita, mas é uma rivalidade saudável",
disse Miguel que recorda os tempos de criança, quando a "noite dos
tapetes não era como é hoje"."Antigamente
era uma festa mais nossa, de pescadores e moradores da ribeira. Agora a
noite dos tapetes é mais conhecida. Vem muita gente para ver. Noutros
tempos também havia mais gente na confeção dos tapetes, porque por cada
casa havia mais filhos, eram oito ou nove. Agora, um casal só tem um ou
dois filhos e não tem mais", acrescentou. A
procissão ao rio e ao mar cumpre-se sempre a 20 de agosto, desde 1968.
Já o culto à padroeira dos pescadores tem a sua primeira referência
escrita em 1744.Em 2019, completam-se 51
anos da realização da procissão ao mar e ao rio, em honra de Nossa
Senhora d' Agonia. Na segunda-feira, dia 20, feriado municipal, as
margens do rio Lima enchem-se. São milhares de pessoas concentradas para
ver e saudar a procissão, envolvendo mais de uma centena de embarcações
de pesca e de recreio.Além da Senhora da
Agonia, são ainda transportadas ao mar e ao rio as imagens da Senhora de
Monserrate, de São Pedro, da Senhora dos Mares e o de Frei Bartolomeu
dos Mártires que, desde 2015, passou a integrar a procissão.No
regresso a terra, os pescadores transportam os andores de novo à igreja
de Nossa Senhora d'Agonia, situada no Campo da Agonia, passando pelas
ruas da ribeira onde, durante a madrugada, foram confecionados,
manualmente, os típicos tapetes de sal.