@page { size: 21.59cm 27.94cm; margin: 2cm }
p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115%; background: transparent }No início do século XX, se vagueássemos pelas ruas açorianas,
seria comum cruzar-se no nosso caminho uma figura coberta de negro da
cabeça aos pés, sem que se deixasse adivinhar quem por baixo dela
se escondia. Poderiam até parecer ameaçadoras para quem pisasse os
Açores pela primeira vez mas, na verdade, escondiam apenas as
silhuetas de senhoras, as agora chamadas Mulheres de Capote.
Se em tempos os visitantes da ilha as estranhavam, hoje procuram uma
em específico, que já viaja pelo mundo mas tem casa na Ribeira
Grande. A Mulher do Capote é uma das mais emblemáticas marcas da
Fábrica de Licores Eduardo Ferreira & Filhos Lda, procurada por
estrangeiros e locais para provar as bebidas que prometem conter o
autêntico sabor dos Açores.
A empresa foi fundada em 1993 mas o sonho já existia bem antes, além
mar. Foram as saudades da terra que fizeram Eduardo Ferreira
regressar dos Estados Unidos para retomar o negócio do pai, produtor
de vinho e aguardente. A produção prosperava, mas havia algo mais a
ocupar a mente de Eduardo. “Nesta altura, havia um grande mistério
em torno do licor de maracujá, porque mais ninguém o sabia fazer
para além do Ezequiel. Isso gerou grande curiosidade no meu pai, que
sempre gostou de desafios.”, descreve a filha Carolina Ferreira.
Depois de algumas experiências, Eduardo chegou a uma fórmula tão
apreciada por quem a provou que fez com que abrisse a sua própria
fábrica.
A popularidade do licor não o fez parar. Os anos de atividade da
Fábrica têm sido marcados por uma busca constante e sem fronteiras.
“Recordo-me que, em criança, ele nos dizia sempre para estarmos
atentos quando fossemos mundo fora, para aprender com o que víamos,
o que poderíamos adaptar e fazer ainda melhor.”, recorda Carolina.
Destas viagens, físicas e figurativas, têm nascido diversos
produtos, em regra pioneiros na produção regional.
“Estou sempre a mencionar como fomos os primeiros a fazer várias
coisas, e efetivamente fomos.”, assegura Carolina, dando como
exemplos o Goshawk, o primeiro gin a surgir na região, e o Antília,
que mantém o estatuto de único rum açoriano. Esta singularidade na
produção gera muita procura, garante Carolina, mas vem também com
os seus próprios desafios, um deles a dificuldade em aceder à
matéria prima. “E ainda assim tem sido extraordinário, é um dos
produtos que mais exportamos.”, sublinha, referindo-se ao rum. Vê
o turismo como uma nova forma de exportar, já que praticamente todos
os visitantes da Fábrica levam o seu licor preferido para casa.
No que a favoritos diz respeito, o licor de maracujá continua a ser
o que mais enche as medidas e os copos dos consumidores. Aquela que
foi a grande inspiração de Eduardo passou a fazer parte da sua
própria Fábrica há cerca de vinte anos, quando adquiriu a marca
Ezequiel. “É o licor mais premiado de Portugal e isso deixa-me
muito orgulhosa, quer como açoriana, quer como portuguesa.”,
afirma.
O orgulho de Carolina estende-se e sabe às mais diversas coisas: à
intensidade da Aguardente Velhíssima, à doçura dos licores de
natas Queen of the Islands, às nuances do rum Antília e à frescura
do gin Goshawk. Para todos os sabores, a procura por uma nova
aventura continua a ser o ingrediente principal. A Fábrica, que
começou como fruto das saudades de um emigrante que regressa a casa
segue hoje como o lugar onde todos têm saudades do futuro.
“O nosso futuro é sempre crescer, com novos mercados e novos
produtos.”, assegura Carolina, que diz terem já quatro novos
produtos quase prontos para serem lançados este Natal. Mantê-lo
ainda em segredo faz parte do encanto e aguça a curiosidade pelo que
virá na próxima etapa do caminho, tão misterioso como a própria
Mulher do Capote.