Orquestra de Filadélfia retira convite a Plácido Domingo depois de acusações de assédio
13 de ago. de 2019, 16:57
— Lusa/AO Online
“A Associação da Orquestra de Filadélfia
retirou o seu convite a Plácido Domingo para que aparecesse no concerto
de noite de abertura, no dia 18 de setembro. Estamos empenhados em criar
um ambiente seguro, solidário, respeitoso e apropriado para a Orquestra
e pessoal, para artistas convidados e compositores, e para as nossas
audiências e comunidades”, adiantou aquela estrutura num comunicado
publicado na sua página oficial.Por seu
lado, o festival de Salzburgo, na Áustria, manteve as atuações previstas
do tenor nos dias 25 e 31 de agosto, na ópera “Luisa Miller”, de Verdi.O
cantor espanhol Plácido Domingo terá assediado sexualmente várias
mulheres e usado a sua posição para as punir quando o recusavam, tendo a
agência de notícias Associated Press divulgado hoje relatos de
profissionais do meio a confirmar esses comportamentos.Numa
extensa investigação por parte da agência norte-americana de notícias,
oito cantoras e uma bailarina disseram ter sido assediadas sexualmente
por Plácido Domingo, numa série de acontecimentos que ocorreram ao longo
de três décadas, em espaços que incluíam companhias de ópera onde o
cantor ocupava cargos de direção. Muitas dizem ter sido avisadas por
colegas para nunca ficar a sós com Domingo.Seis
outras mulheres relataram à AP avanços que lhes causaram desconforto,
em particular uma cantora que Plácido Domingo repetidamente convidou
para sair, depois de a ter contratado para uma série de concertos na
década de 1990.Adicionalmente, quase 30
outras pessoas ligadas à indústria musical, desde cantoras a músicos de
orquestra, passando por professores de canto e administradores,
confirmaram ter testemunhado comportamentos impróprios de índole sexual
por parte do cantor espanhol, que atualmente conta 78 anos. Das
nove pessoas que acusam o cantor, apenas a meio soprano Patricia Wulf
aceitou divulgar o seu nome, tendo as restantes pedido anonimato por
temer represálias profissionais e pessoais.Sete das nove mulheres disseram acreditar que as carreiras sofreram por terem rejeitado os avanços sexuais de Plácido Domingo.Contactado
pela AP, Placido Domingo não respondeu às questões específicas sobre as
acusações, declarando que “as alegações destas pessoas, cujo nome não é
divulgado e que remontam até há 30 anos, são profundamente
perturbadoras e − da forma como são apresentadas − imprecisas”.“Ainda
assim, é doloroso ouvir que posso ter incomodado alguém ou causado
desconforto, não importa há quanto tempo e apesar das minhas melhores
intenções. Acreditei que todas as minhas interações e relações foram
sempre bem-vindas e consensuais. Quem me conhece ou trabalhou comigo
sabe que não sou alguém que intencionalmente magoasse, ofendesse ou
embaraçasse outra pessoa”, acrescentou o cantor, que diz que “as regras e
padrões” de hoje são “muito diferentes do que foram no passado”.A
influência do cantor no meio − membro do conjunto de Três Tenores, com
José Carreras e Luciano Pavarotti, diretor-geral da Ópera de Los
Angeles, presidente da Europa Nostra, presidente da administração da
Federação Internacional da Indústria Fonográfica e responsável pelo
concurso Operalia, que se realizou em Lisboa no ano passado − é tamanha,
que só Wulf, que se encontra afastada dos palcos, aceitou dar a cara em
declarações à AP.Muitas das pessoas
admitiram sentir-se fortalecidas pelo movimento #MeToo e decidiram que a
maneira mais eficaz de atacar a má conduta sexual na indústria era
denunciar o comportamento da figura mais proeminente da ópera.