Ordem dos Médicos só aceita prescrição como medicamento e não em forma fumada
11 de jan. de 2018, 07:50
— Lusa/AO Online
Num
parecer do Conselho Nacional da Política do Medicamento da Ordem dos
Médicos, elaborado a pedido do bastonário, é dito que a evidência atual
“permite considerar a potencial utilização [da canábis]” nalguns casos,
como no alívio da dor crónica em adultos, como anti-vómito no tratamento
do cancro, na esclerose múltipla ou no controlo da ansiedade.Contudo,
o parecer, a que a Lusa teve acesso, indica que o uso de canábis ou
canabinoides como medicamento de uso humano deve ser sujeita a aprovação
pelas entidades regulamentares em saúde”, como a Autoridade Nacional ou
Europeia do Medicamento.Além
disso, a Ordem dos Médicos avisa que, pela sua potencial toxicidade, a
prescrição da canábis deve ser exclusivamente médica e com
regulamentação específica, como é feito com os derivados de morfina, por
exemplo.“O
uso direto da planta de canábis ou seus derivados com fins medicinais
envolve desafios particulares. A sua eventual permissão deve ser alvo de
reflexão ponderada e multidisciplinar, integrando as questões legais da
sua produção, comercialização, controlo de qualidade, do
benefício/risco terapêutico em cada condição clínica”, lê-se nas
recomendações do parecer, que foi homologado pela maioria dos membros do
Conselho Nacional Executivo da Ordem, segundo disse à Lusa o
bastonário, Miguel Guimarães.O
parecer aponta para desafios concretos no uso de canábis para fins
terapêuticos, sobretudo em relação ao consumo direto da planta de
canábis, lembrando que “nenhum país europeu autoriza atualmente a
canábis fumada para fins médicos”.Para
o bastonário dos Médicos, este parecer mostra que a Ordem está
disponível para que a canábis seja usada “como medicamento” nas
situações em que há evidência científica.“Considera-se
que neste momento, a avançar, será como medicamento e não como erva
para ser fumada”, afirmou Miguel Guimarães à Lusa, entendendo que a
canábis fumada devia ficar para já de fora de uma aprovação parlamentar,
tendo em conta que hoje são votados projetos de lei do Bloco de
Esquerda e do PAN sobre uso de canábis para efeitos terapêuticos.O
bastonário afirma mesmo que “seria um risco” avançar para a aprovação
da canábis fumada “porque não está suficientemente estudada em termos
científicos”.Aliás, o responsável entende que esta é uma oportunidade para se promover a investigação científica nesta área.Segundo
o parecer homologado pela Ordem, as eventuais alterações legais que
possam facilitar o uso direto de canábis para fins medicinais não devem
negligenciar os potenciais riscos de saúde publica, incluindo o abuso na
sua utilização como droga recreativa”.Sobre
a segurança do uso da canábis, o parecer aponta para uma associação
entre o seu consumo e o desenvolvimento de dependência, esquizofrenia e
outras psicoses, bem como agravamento de dificuldade respiratória.Quanto
à eficácia da canábis no uso clínico, a Ordem considera que existe
forte evidência no tratamento da dor crónica, como anti-emético
associado ao tratamento oncológico (anti-vómito), no auxílio do
tratamento da esclerose múltipla e no controlo da ansiedade.Existe
ainda moderada evidência sobre o uso de canábis na melhoria do sono em
pessoas com apneia obstrutiva do sono, fibromialgia, anorexia por cancro
e stress pós-traumático.O
parecer recorda que não existe contudo ainda qualquer evidência que
permita verificar eficácia da canábis no tratamento do cancro, sintomas
de intestino irritável, epilepsia, esclerose lateral amiotrófica, doença
de Parkinson ou esquizofrenia, apesar dos estudos desenvolvidos nestas
áreas.