Ordem dos Médicos pede dados atualizados sobre assistência à gravidez e ao parto
13 de jun. de 2022, 11:27
— Lusa/AO Online
“Precisamos
de saber os dados sobre a maternidade materna e perinatal, o número de
internamento em cuidados intensivos de grávidas e recém-nascidos, partos
fora do hospital, partos no domicílio, taxas de cesarianas, partos
instrumentados, episiotomia”, disse Miguel Guimarães, adiantando que
enviou no domingo um ofício à ministra da Saúde com sugestões de medidas
a tomar no imediato e a médio prazo para "tentar ajudar a resolver a
situação" nesta área.Na seu entender, são
“dados importantes” para compreender as causas do aumento da mortalidade
materna e perinatal. “Será que é por causa destas questões das equipas
não estarem adequadas? Será que estão a fazer cada vez mais partos em
casa e há mais complicações porque alguns complicam e enquanto as
parturientes chegam e não chegam aos hospitais acontecem situações
dramáticas?”, questionou. “Isto tem que
ser estudado (…) porque é importante para a estratégia que se possa
definir”, disse o bastonário, adiantando que irá expor esta situação
numa reunião convocada para hoje pela ministra Marta Temido, que
considerou um "passo importante" o facto de querer ouvir as entidades e
os profissionais que estão no terreno.Salientou
a importância de programas de recuperação de listas de espera,
incluindo consultas e ecografias, alertando que há vários hospitais que
suspenderam as ecografias do segundo trimestre porque não têm capacidade
para as fazer e começam a ir para o setor privado.
Por outro lado, os hospitais devem ter “autonomia e flexibilidade na
gestão” para poder contratar rapidamente especialistas para o SNS,
evitando que tomem outras opções. Também
“é fundamental” a aplicação prática das carreiras médicas e que os
concursos existam e sejam feitos de forma “mais rápida, mais flexível e
até pelos próprios hospitais”, bem como a reavaliação da carta
hospitalar, porque “a forma como estão organizados os serviços de saúde,
as urgências, etc. se calhar precisa de ser vista também de uma forma
global, não especificamente na parte de obstetrícia”.
A questão das horas extraordinárias também tem de ser alterada, assim
como os salários que devem ser equivalentes àqueles que se praticam na
Europa, tendo em conta o Produto Interno Bruto (PIB) de cada país.
“Eu não posso pagar aos médicos que fazem horas extraordinárias (…)
de forma diferente e de forma muito mais baixa do que aquilo que pago
aos tarefeiros que fazem prestações de serviços”, salientou, elucidando
que um médico tarefeiro ”ganha cerca de quatro vezes mais do que um
médico que veste a camisola do SNS todos os dias”. “Isto obviamente que não é motivador e tem que ser alterado”, vincou.
Por fim, apontou a possibilidade de prestação de serviço por médicos
reformados, que já demonstraram interesse em colaborar, fazendo
urgências, mas não podem legalmente. Contudo, frisou, “o Ministério da
Saúde pode fazer com que possam”.
Miguel Guimarães avançou ainda que está em cima da mesa a hipótese de
fazer uma auditoria clínica ao hospital das Caldas da Rainha, onde uma
grávida perdeu o bebé, para perceber as causas da situação, “que
seguramente não tem a ver como os médicos”.
“Já sei exatamente o que aconteceu, mas é importante perceber se
todos os processos e procedimentos necessários nessa altura foram
respeitados”, explicou. Anunciou também
que a OM vai fazer visitas a três unidades hospitalares, um no Norte,
outra no Centro e outra no Sul do país.