Ordem dos Médicos considera vagas no internato um cartão vermelho ao Governo
27 de nov. de 2023, 11:26
— Lusa/AO Online
“São
dados muito preocupantes e que espelham aqui efetivamente uma grande
despreocupação e um trabalho muito mal feito da parte do Ministério da
Saúde (MS)”, defendeu o bastonário dos médicos, Carlos Cortes, em
declarações à Lusa a propósito dos resultados do concurso de acesso à
formação nas especialidades médicas, no qual mais de 400 das 2.242 vagas
ficaram por ocupar.Tal como os sindicatos
médicos, também a OM está preocupada com a falta de candidatos a
Medicina Geral e Familiar, que forma médicos de família, “uma área muito
importante no SNS, uma porta de entrada dos doentes” com uma
“importância muito grande na prevenção da doença”, mas também em
Medicina Interna, “um pilar da resposta hospitalar transversal em todas
as áreas”.O bastonário acusa o MS de não
ter levado a cabo “o trabalho que deveria ter sido desenvolvido” para
uma “maior atratividade do SNS e para se poderem fixar mais médicos”,
mas também de desaproveitar vagas para formação de médicos, frisando que
nas últimas duas décadas a OM apresentou à tutela uma disponibilidade
de formação nos serviços de mais de 40 mil vagas, tendo sido
aproveitadas cerca de 38 mil.Nas contas da OM, foram desaproveitados quase seis mil lugares, “que fazem falta ao SNS”.“Não
aproveitaram mais de seis mil vagas. Seis mil médicos corresponde
sensivelmente ao número de horas extraordinárias que neste momento
anualmente são utilizadas no SNS. Portanto, se os vários Governos
tivessem feito adequadamente o seu trabalho muito certamente o SNS não
teria as dificuldades que está a atravessar neste momento. Isto já não é
um cartão amarelo, é um cartão vermelho à atuação do MS que tem sido
incompetente para resolver todos os problemas do SNS”, acusou o
bastonário.Par Carlos Cortes esta falta de
atratividade do SNS “é um grande sinal de alarme”, que não é sequer o
primeiro, numa problemática que tem sido objeto de sucessivos alertas
por parte da OM à tutela, sublinhou.“O MS
tem sido inoperante nesta capacidade de atração dos médicos para o SNS e
está à vista o mau trabalho que tem sido feito, que tem sido
desenvolvido. (…) A verdade é que isto tem sido tratado com uma enorme
negligência e incompetência por parte do MS”, disse.O
bastonário criticou ainda a “narrativa errada, que não corresponde à
realidade, de que a OM tem criado barreiras à formação de médicos
especialistas”, contrapondo que o número de vagas apresentadas à tutela e
não aproveitadas revela “exatamente o contrário”.“Temo
muito por aquilo que poderá vir a acontecer com a promulgação do novo
estatuto da OM, em que são retiradas competências da OM nomeadamente no
domínio da formação e, acho que hoje está à vista de todos, que o MS não
tem capacidade de apresentar as melhores soluções precisamente nesta
área muito sensível e muito importante que tem a ver com formação
médica”, afirmou o bastonário dos médicos.Carlos
Cortes disse que a incapacidade do ministro da Saúde para compreender
as preocupações da OM e dos sindicatos com as condições de trabalho no
SNS prejudicam sobretudo os doentes e o seu acesso a cuidados de saúde,
prevendo que as dificuldades atuais se vão “agravar cada vez mais”.O
concurso para a formação de médicos especialistas terminou no sábado
com 1.836 das 2.242 vagas preenchidas, anunciou hoje a Administração
Central do Sistema de Saúde (ACSS), assumindo preocupação com a
diminuição das escolhas em Medicina Interna.