Ordem dos Enfermeiros fala em falta de investimento no Hospital de Ponta Delgada
17 de set. de 2024, 17:59
— Lusa/AO Online
“O HDES
sofreu um grande desinvestimento ou desinteresse nos últimos anos e
isso, infelizmente, mais tarde ou mais cedo, haveria de ter
consequências de alguma forma, e isso já se vinha a notar nos cuidados
que eram oferecidos à nossa população”, lamentou Pedro Soares, durante
uma audição na Comissão de Assuntos Sociais do parlamento açoriano,
reunida em Ponta Delgada.O presidente da
Ordem dos Enfermeiros no arquipélago, foi ouvido pelos deputados, a
propósito da resposta dos profissionais de saúde ao incêndio que ocorreu
no HDES, a 4 de maio passado, e que levou ao encerramento temporário da
maior unidade de saúde dos Açores e à transferência de doentes para
outras ilhas e também para o arquipélago da Madeira.Pedro
Soares garante que os enfermeiros açorianos deram a devida resposta
numa situação de catástrofe, mas lembra que a falta de recursos humanos
nas unidades de saúde dos Açores tem levado muitos enfermeiros a uma
situação de quase exaustão.“O cansaço dos
enfermeiros não vem do dia 4 de maio, do dia do fogo. O cansaço dos
enfermeiros já vem de trás. Nós estamos a navegar nos Açores, no sistema
regional de saúde, em muitas instituições – e o HDES é exemplo disso –
abaixo das dotações seguras”, lembrou aquele responsável de enfermagem.A
Ordem dos Enfermeiros está também preocupada com o reduzido número de
novos profissionais de saúde que são formados anualmente e que integram
os centros de saúde e hospitais da Região, que no seu entender, não dão
resposta às necessidades do arquipélago.“Nós
temos um problema muito grande daqui a 4 ou 5 anos. Nós estamos a
formar cerca de 80 enfermeiros e dentro de 4 a 5 anos, cerca de 160
enfermeiros começam a sair para a reforma, ou seja, nós não formamos um
número mínimo para colmatar aqueles que vão sair do sistema regional de
saúde”, advertiu.Pedro Soares, que foi
ouvido a pedido da bancada do PSD na Assembleia Regional, entende também
que o Hospital de Ponta Delgada não podia ter reaberto as suas portas,
sem a realização de obras, contrariando a opinião do engenheiro
eletrotécnico, João Mota Vieira, que elaborou o relatório técnico sobre o
acidente no HDES.“Quando nós ouvimos
publicamente se falar que bastava fazer uma limpeza no edifício que foi
atingido pelo fogo, e que podíamos voltar a colocar os utentes todos lá,
eu tenho de lamentar estas afirmações porque isto é uma falta de
conhecimento técnico do que são cuidados de saúde. Isto é um desrespeito
pelos utentes e pelos profissionais de saúde”, insistiu o presidente da
Ordem dos Enfermeiros.Pedro Soares
referiu-se também ao hospital modular, que, entretanto, foi instalado
pelo Governo junto ao HDES, para retomar os cuidados de saúde primários
aos utentes da região, para dizer que aquela unidade provisória, “é a
melhor solução”, em termos de apoio aos profissionais de saúde, nesta
fase.“Do ponto de vista prático, é para
nós o mais acertado, termos ali um ponto, que é o hospital modular, de
prestação de cuidados, mas que é obviamente, um ponto de apoio, enquanto
tivermos o edifício principal em obras, alterações e reconstrução”,
defendeu o responsável pela Ordem dos Enfermeiros nas ilhas.Os
deputados do parlamento açoriano pretendiam também ouvir um
representante da Ordem dos Médicos nos Açores, a este propósito, mas a
audição, inicialmente marcada para esta terça-feira, foi adiada.