Ordem dos Advogados preocupada com violação dos direitos humanos dos reclusos
22 de jun. de 2024, 18:27
— Lusa
Esta
posição da OA e da sua Comissão dos Direitos Humanos surge, numa nota
enviada à agência Lusa, na sequência do Relatório Mundial sobre Direitos
Humanos de 2022 da Human Rights Watch, no qual Portugal foi destacado
pelas más condições prisionais, pela superlotação e pela falta de
fornecimento de cuidados de saúde adequados aos reclusos e às reclusas.A
Ordem, que já expressou anteriormente idêntica posição, refere
igualmente o Relatório Anual da Direção-Geral de Reinserção e Serviços
Prisionais (DGRSP) de 2023, segundo o qual cerca de 70% das prisões
portuguesas apresentam condições inadequadas de infraestrutura, o que
dificulta a manutenção de um ambiente humano e seguro para os reclusos.Recentemente,
sublinha a ordem, em visita ao Estabelecimento Prisional de Ponta
Delgada, a bastonária dos advogados constatou que existe uma camarata
comum com 37 pessoas (espaço onde já chegaram a estar 60), funcionando,
num outro piso, também uma camarata com quatro mulheres, que ficam
confinadas a esse espaço durante 22 horas por dia, devido ao perigo de
conviverem em espaços comuns com os restantes reclusos homens. A
OA afirma, no documento enviado hoje à tarde à Lusa, que, na altura, a
diretora da cadeia de Ponta Delgada informou que num ano e meio
aconteceram 21 incidentes naquela camarata.Para
a ordem, acresce que, no seu último relatório, o Mecanismo Nacional de
Prevenção de Tortura (MNP) afirma de forma expressa que “é
reiteradamente ignorada por parte do pessoal médico prisional a sua
obrigação de denúncia e sinalização de evidências de maus-tratos a
reclusos ou reclusas, o que é revelador do estado de total
vulnerabilidade a que se encontra vetada a população reclusa”.Outra
“questão importante” destacada pela OA é o “uso excessivo de medidas
privativas de liberdade em vez de outras opções estipuladas por lei”,
sendo que, “em resultado disso, Portugal, que segundo o Índice Global da
Paz em 2023 era o 7.º país mais seguro do mundo e o 4.º mais seguro da
Europa, tem as suas prisões superlotadas, com uma taxa de encarceramento
de 128 presos por 100.000 habitantes, uma das mais altas da Europa
Ocidental”.Na posição do órgão
representativo dos advogados, “entre os principais problemas está também
escassez de recursos no acompanhamento das medidas de execução da
pena”. “A insuficiência de programas
formais e específicos de monitoramento e acompanhamento compromete a
reintegração eficaz e permanente dos/as reclusos/as na comunidade”,
refere a ordem, destacando que, de acordo com dados da DGRSP, apenas 25%
dos reclusos participam em programas de reinserção social.A
OA afirma que “um dos mais gritantes vazios no sistema prisional
português prende-se com a falta de aconselhamento jurídico” aos reclusos
durante as suas penas, “o que claramente colide com a defesa dos seus
direitos, liberdades e garantias”.“A OA
defende há muito a criação de uma escala própria para prestação de
consulta jurídica remota, incluída no sistema de acesso ao direito e aos
tribunais, sem necessidade de validação prévia da Segurança Social, que
garanta de forma célere o eficaz acesso a aconselhamento jurídico à
população reclusa, tendo em conta a sua situação de especial
fragilidade”, lê-se no documento.A
concluir, a OA considera que “o sistema prisional português enfrenta
sérias e difíceis questões que devem ser analisadas e resolvidas em
conjunto, de forma holística e abrangente, sendo absolutamente essencial
a presença da advocacia em todo este processo, porque só assim são
cabalmente garantidos os direitos constitucionais dos reclusos”.