Orçamento ignora os dependentes e penaliza quem tem mais flhos
7 de nov. de 2017, 09:33
— Lusa/AO Online
Em comunicado, a
Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) considera que o
Orçamento do Estado para 2018 “vem confirmar que a família está longe
das prioridades estratégicas para o País” e que “muitos dos erros que
vinham do passado” se mantêm ou agravam.Há
medidas que “poderiam ser louváveis", mas "padecem do mesmo vício de
não considerarem cada dependente (descendentes e ascendentes) para o
cálculo dos impostos”, acrescenta.A
APFN dá alguns exemplos, designadamente nas situações de carência
económica e nas que, não registando carência económica, as famílias
“resultam profundamente prejudicadas em matéria fiscal”.Um dos exemplos tem que ver com o facto de o valor “mínimo de existência não ter em conta o número de filhos”. A
APNF apresenta uma situação em que o rendimento líquido anual é de
8.840 euros, com um sujeito passivo sem dependentes que está isento de
impostos, e outra em que o rendimento do agregado familiar é de 8.900
euros, com dois sujeitos passivos e um dependente, mas que já não
beneficia da isenção, o mesmo acontecendo para uma situação semelhante
com dois dependentes. Nas
despesas da educação, a associação considera que o OE2018 penaliza
igualmente as famílias com mais filhos, uma vez que o valor limite da
dedução destas despesas por filho é de 800 euros no caso de um
dependente, mas baixa para 400 euros se houver dois dependentes e para
250 se forem quatro.Diz
igualmente a APFN que o número de filhos também não é tido em conta
para o cálculo das taxas moderadoras. Como exemplo, apresenta o caso de
um sujeito passivo, sem filhos, com um rendimento mensal de 630 euros e
que está isento destas taxas, enquanto numa família com rendimento
mensal de 635 anos, com dois sujeitos passivos e dois filhos (de 17 e 19
anos), apenas o menor de idade tem isenção. “Para
haver equidade e justiça fiscal no IRS é necessário que seja
corretamente avaliado o encargo com despesas essenciais que cada filho
comporta”, defende a associação, que reitera “a importância da
existência de um mecanismo de justiça fiscal que tenha em conta a
progressividade do imposto”Segundo
a APFN, este mecanismo poderá funcionar através da manutenção do
coeficiente familiar, mas em que cada dependente, descendente e
ascendente, sejam considerados, através da introdução de um valor mínimo
de existência universal e igual para cada criança/jovem ou de uma
bonificação percentual na taxa por cada criança/jovem.“Outra
situação que vem agravar o imposto para as famílias é o fim da isenção
de IRS para os ‘vales de educação’, não compensado pela reestruturação
das taxas de IRS”, consideram as famílias numerosas. “Sem
surpresas, Portugal é um dos países da Europa que dedica menor
percentagem do PIB a políticas de família: 1,44% que é cerca de metade
da média da zona euro, segundo Relatório do FMI publicado em 2016”,
recorda a APFN.De
acordo com todos os estudos de pobreza realizados em Portugal, as
famílias com crianças e jovens em Portugal continuam a estar entre o
grupo que tem maior fragilidade económica, particularmente as famílias
numerosas.“Ao
não considerar o número de pessoas que vivem de um mesmo rendimento, o
Orçamento do Estado cava um fosso de discriminação negativa em relação
às famílias com filhos e agrava, em muitos casos, a sua situação de
fragilidade”, considera a associação.“Este
é o sinal contrário ao que o País necessitava, num momento de profundo
défice demográfico em que as famílias, mais do que nunca, deveriam ser
estimuladas na sua decisão de ter mais filhos”, acrescenta.