Operadores do CDOS confirmam pedido de meios e dificuldade de comunicações
Pedrógão Grande
22 de fev. de 2022, 14:56
— Lusa/AO Online
Explicando que os chefes
de sala não trabalham habitualmente ao fim de semana, Pedro Borges disse
ter chegado ao CDOS pelas 17h00 e que, a pedido do então 2.º
comandante, Mário Cerol, comunicou com o comando nacional para fazer o
ponto de situação dos meios já solicitados, pois “nunca mais chegavam”.Pedro
Borges afirmou que o registo de 177 operacionais, 48 veículos e dois
meios aéreos “estavam escritos porque foram solicitados”, embora não
tenha sido escrito que foram desviados. “Quem
faz esse registo é o comando nacional e deveria tê-lo escrito, pois
quem está no teatro de operações pensa que os meios estão a caminho”,
explicou, em resposta a Filomena Girão, advogada do arguido Augusto
Arnaut, comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande.O
chefe de sala na altura admitiu ainda que nem tudo poderá ter ficado
registado na fita do tempo, “tendo em conta a maior pressão a que a sala
estava sujeita”.“Não tenho dúvidas de que
foram pedidos” reforço de meios e de meios aéreos, sublinhou Pedro
Borges, que também afirmou que o despacho de aviões pesados são da
responsabilidade do comando nacional.O
operador acrescentou que “houve pedidos que foram feitos pelos
comandantes Sérgio Gomes e Mário Cerol diretamente ao comando nacional” e
sublinhou que não havia “perceção dos meios desviados”.“Recordo-me
de duas situações: dois grupos que foram mobilizados, por volta das
17h00/18h00 e nunca mais chegavam. O Mário Cerol pediu-me para ligar
para o comando nacional para saber onde estavam e disseram que tinham
sido desviados para Portalegre. Outra situação foi que não havia rede
Siresp e do comando nacional informaram que estava a sair uma carrinha
satélite às 21h00, mas só viria a chegar às 06h00 da manhã”, revelou.Também
Carla Marques, chefe de sala que substituía Pedro Borges, foi chamada
para a sala de operações no dia do incêndio e afirmou terem sido pedidos
meios para Pedrógão Grande. “Eu própria perguntava pelos meios e tanto o
comandante distrital como o segundo me diziam que não havia”,
referindo-se à resposta dada aos seus superiores pelo comando nacional
de Proteção Civil.“Antes das 17h00 não
havia meios para reforçar”, frisou, admitindo que “entre uma chamada e
outra pode ter falhado algum registo”.Respondendo
a Filomena Girão, a operadora do CDOS disse que “se é feito o
acionamento e não está referido que os meios foram desviados, pode dar
um número elevado” e não ser real.Carla
Marques também apontou a falta de comunicações, que começaram a sentir
ao final do dia. “Tentámos estabelecer contacto com as corporações, por
rede fixa, e posteriormente, por via Siresp, e não era bem sucedido. Por
isso, dissemos aos operadores que estavam na VCOC [Veículo de Comando e
Comunicações] que iríamos colocar na fita do tempo todas as
informações, porque a internet ainda funcionava”, revelou.A operadora conseguiu, por vezes, contacto com o posto de comando através dos telemóveis pessoais.Em
causa neste julgamento estão crimes de homicídio por negligência e
ofensa à integridade física por negligência, alguns dos quais graves. No
processo, o Ministério Público contabilizou 63 mortos e 44 feridos
quiseram procedimento criminal.Os arguidos
são o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, então
responsável pelas operações de socorro, dois funcionários da antiga EDP
Distribuição (atual E-REDES) e três da Ascendi (que tem a subconcessão
rodoviária Pinhal Interior), e os ex-presidentes da Câmara de
Castanheira de Pera e de Pedrógão Grande, Fernando Lopes e Valdemar
Alves, respetivamente.O presidente da
Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, também foi acusado, assim
como o antigo vice-presidente da Câmara de Pedrógão Grande José Graça e a
então responsável pelo Gabinete Florestal deste município, Margarida
Gonçalves.