ONU vai receber valor recorde para refugiados em 2026 mas pede doações flexíveis
Hoje 16:42
— Lusa/AO Online
Segundo o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a organização
recebeu a promessa de lhe serem doados, em 2026, cerca de 1,4 mil
milhões de euros, sublinhando que o valor constitui uma demonstração de
confiança no seu trabalho. No entanto, a
agência lamentou, em comunicado divulgado, que as promessas de
financiamento mostrem uma redução da percentagem de financiamento não
vinculado, ou seja, de fundos que não são atribuídos a um objetivo
específico, podendo ser usados onde as necessidades são maiores,
incluindo emergências repentinas e deslocações em grande escala.O
aumento das doações prometidas para 2026 foi apresentado sobretudo
pelos governos da Dinamarca, Alemanha, Japão, Países Baixos e Noruega,
que, juntamente com os parceiros do setor privado, somam um
financiamento de cerca de 1,4 mil milhões de euros, avançou a
organização humanitária.“No meio das
fortes pressões financeiras sobre os intervenientes humanitários em todo
o mundo, este apoio oportuno reforça a confiança contínua dos Estados
no trabalho do ACNUR para proteger, auxiliar e encontrar soluções para
os refugiados, retornados e apátridas”, referiu.“Os
compromissos de hoje mostram que o mundo não virou as costas às pessoas
forçadas a fugir e que o apoio aos refugiados persiste”, sublinhou o
alto-comissário, Filippo Grandi, lembrando que, este ano, a ajuda
humanitária sofreu cortes dramáticos.Cortes
que “não eram nem necessários nem inevitáveis” e que “foram
profundamente contraproducentes, levando a mais instabilidade e a menos
proteção, assistência e esperança”, criticou, numa referência à decisão
do Presidente norte-americano, Donald Trump, de reduzir o investimento
na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
(USAID).Apesar de elogiar o crescimento do
financiamento esperado para 2026, o ACNUR alerta que o montante cobrirá
menos de um quinto das necessidades do próximo ano e lamenta a redução
do financiamento não vinculado para 17%, quase metade do montante
registado em 2023.A organização lembra
que, com a redução do financiamento deste ano, as equipas no terreno
foram obrigadas a escolher quem receberia apoio e a concentrar os
recursos limitados nas necessidades mais críticas.“Nos
primeiros seis meses de 2025, o financiamento flexível ajudou-nos a
chegar a mais de 8 milhões de pessoas com serviços como assistência
jurídica, documentação e proteção infantil, a prestar mais de 6 milhões
de consultas de saúde, a expandir o acesso à água e ao saneamento a
quase 5,9 milhões de pessoas e a apoiar milhões de outras com artigos de
ajuda, dinheiro e abrigo”, descreveu.No
entanto, avisou, “os cortes no financiamento tiveram consequências
terríveis”, como no caso do Afeganistão, onde os serviços de proteção,
principalmente de mulheres e raparigas, “foram reduzidos em mais de
metade”.No caso do Sudão do Sul, “75% dos
espaços seguros para mulheres e raparigas foram encerrados, enquanto no
Líbano, mais de 83.000 refugiados perderam a assistência para encontrar
abrigos”, lamentou.“Precisamos
urgentemente de financiamento flexível e contínuo para preservar as
conquistas obtidas com muito esforço em áreas como a educação, a
proteção infantil e os esforços para prevenir e responder à violência
sexual”, pediu Grandi.“A maioria dos
refugiados anseia por regressar a casa, e muitos já o fizeram este ano.
Com um forte apoio dos doadores, podemos ajudar a tornar estes regressos
mais seguros e sustentáveis e garantir que os países anfitriões não são
deixados sozinhos para suportar esta responsabilidade”, concluiu.