ONU receia normalização de reencaminhamentos forçados nas fronteiras da Europa
Migrações
21 de fev. de 2022, 16:26
— Lusa/AO Online
“O que está a
acontecer nas fronteiras da Europa é inaceitável, tanto legalmente como
moralmente, e tem de parar” de imediato, declarou o Alto-Comissário da
ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmando ter receio de que
“estas práticas deploráveis se normalizem e se tornem a regra”.“Violência,
maus-tratos e reencaminhamentos ou expulsões forçadas [manobras
conhecidas como ‘push-back’] continuam a ser relatados regularmente em
vários pontos das fronteiras terrestres e marítimas, dentro e fora da
União Europeia (UE), apesar dos repetidos apelos para acabar com essas
práticas”, disse o representante, num comunicado divulgado.Grandi
destacou, em particular, a informação relativa às fronteiras terrestres
e marítimas da Grécia com a Turquia, salientando que o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) registou cerca
de 540 expulsões/reencaminhamentos forçados ou informais feitos pelas
autoridades gregas desde o início de 2020.“Incidentes
preocupantes estão a ser relatados também no centro e no sudeste da
Europa, nas fronteiras com Estados-membros da UE”, observou o
Alto-comissário da ONU.Apesar de existirem
muitos incidentes deste género que não chegam a ser relatados, o ACNUR
adiantou ter recolhido os testemunhos de milhares de pessoas na Europa
que foram vítimas deste tipo de práticas, o que, segundo Grandi,
permitiu perceber “um padrão perturbador de ameaças, intimidação,
violência e humilhações”.O ACNUR também denunciou a forma como os traficantes tratam os migrantes e refugiados em alto mar.“No
mar, as pessoas dizem que foram deixadas à deriva em botes salva-vidas
ou, às vezes, que foram obrigadas a saltar para a água, o que mostra uma
crueldade e uma falta de consideração pela vida humana”, criticou.Segundo
o ACNUR, pelo menos três pessoas morreram no mar Egeu em incidentes
deste género desde setembro de 2021, uma das quais em janeiro passado.“Práticas
igualmente horríveis são frequentemente registadas nas fronteiras
terrestres, com relatos consistentes de pessoas a serem despidas e
brutalmente empurradas para trás [para a fronteira que atravessaram] em
condições climáticas adversas”, disse Grandi.Salvo
algumas exceções, grande parte dos Estados europeus não investigam
estas informações, observou o responsável da ONU, que lamenta que as
autoridades estejam mais ocupadas em erguer muros e cercas.“Medidas que têm pouco efeito dissuasor quando as pessoas fogem de guerras ou perseguições nos seus países”, concluiu Grandi.