ONU preocupada com crescente uso de psicoativos e álcool por jovens
27 de fev. de 2020, 13:11
— Lusa/AO Online
Esta
posição é expressa no Relatório Anual do International Narcotics Control
Board (INCB) de 2019 hoje divulgado e que cita também conclusões do
Relatório Mundial sobre Drogas do Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crime (UNODC) 2018. Entre as
principais conclusões, o documento destaca “a conexão entre o uso de
álcool e tabaco e o consumo de substâncias psicoativas, como canábis,
opiáceos e cocaína, por adolescentes e jovens”.Este
tipo de consumos concentra-se no impacto físico, emocional e social que
as drogas psicoativas exercem sobre jovens entre 15 e 24 anos, realça o
documento, que “exorta os Governos a melhorarem os serviços, usando
intervenções de prevenção e tratamento baseadas em evidências para
jovens”.O relatório expressa “preocupação
com o cenário global em rápida mudança de precursores (produtos químicos
essenciais à produção de drogas) para ‘designers’ (tipos de droga)
fabricados ilegalmente e adaptados a um mercado diversificado e online”.O
documento aborda ainda “as injustiças relacionadas com a
disponibilidade de medicamentos controlados”, desde a prescrição
excessiva em alguns países até o acesso limitado noutros, e apela aos
Governos “que respeitem os direitos humanos na implementação de
políticas de drogas e em conformidade com as três convenções
internacionais de controlo de drogas”.O
uso de substâncias e as consequências associadas à saúde são maiores
entre os jovens, sendo a canábis a substância mais utilizada, segundo as
informações disponibilizadas pelos Estados-membros e que fazem parte
dos seus relatórios internos. O UNODC
estima que, em 2016, o consumo de canábis afetou 5,6%, ou seja, 13,8
milhões de jovens de 15 a 16 anos, com taxas que variaram por região,
sendo as mais altas na Europa (13,9%), seguidas pelas Américas (11,6%),
Oceânia (11,4%), África (6,6%) e Ásia (2,7%). As
estimativas globais de saúde de 2015 da Organização Mundial da Saúde
(OMS) mostram que, embora as mortes por todas as causas representem
apenas 4,8% na faixa etária de 15 a 29 anos, elas totalizam 23,1% das
mortes atribuídas a problemas relacionados ao uso de estupefacientes.O
presidente do INCB afirma no relatório que, “das substâncias
controladas internacionalmente, a canábis continua a desempenhar o papel
mais importante entre adolescentes e adultos” e explica que os
organismos internos e internacionais prestam “atenção especial a esse
desenvolvimento” e destaca a preocupação com a situação em alguns países
que mudaram as leis para descriminalizar o uso de substâncias
controladas, como a canábis, para uso não médico (como é o caso de
Portugal), “contrariando as disposições e suas obrigações sob os
tratados de controlo de drogas”.O
Relatório Anual do INCB destaca que “o uso de álcool e tabaco por
crianças e adolescentes está intimamente ligado ao início do consumo de
substâncias psicoativas”, pois, frequentemente, o uso de álcool e tabaco
precede o uso de canábis e outras substâncias controladas. Estudos
longitudinais que se seguiram demonstram que quanto mais cedo o início
do uso de álcool, tabaco e canábis entre os 16 e os 19 anos, maior a
probabilidade de uso de opiáceos e cocaína na idade adulta.O
INCB defende, no relatório, uma nova estrutura para o combate ao uso de
substâncias, já que a pesquisa mostrou que “os jovens são
particularmente vulneráveis ao uso habitual de drogas, levando à revisão
dos fatores de risco e proteção”. “A
necessidade de prevenção e tratamento para crianças e adolescentes deve
levar em consideração as influências individuais e ambientais sobre os
jovens e seu desenvolvimento”, adianta o documento, que exorta a
“intervenções de prevenção baseadas em evidências que funcionem” De
acordo com as Normas Internacionais do UNODC-OMS (Organização Mundial
de Saúde) sobre Prevenção ao Uso de Drogas, os programas de prevenção
baseados em evidências para crianças e adolescentes devem incluir os
seguintes elementos: “Foco nas relações familiares e parentais;
incentivar o envolvimento positivo na vida das crianças e comunicação
eficaz, incluindo a definição de regras e limites”.Currículos
escolares para desenvolver habilidades pessoais e sociais para jovens,
incluindo tomada de decisões, definição de objetivos e habilidades
analíticas, para que os jovens sejam informados corretamente sobre os
efeitos de substâncias psicoativas e possam resistir a influências após
drogas, são outras das normas, bem como o uso das escolas para triagem e
avaliação com referências para aconselhamento e acompanhamento.Recomendam
igualmente a “aplicação rigorosa” de regulamentos para limitar o acesso
a medicamentos com qualidades psicoativas e reduzir a acessibilidade ao
tabaco, álcool e canábis para crianças e adolescentes.Os
padrões também identificam abordagens de prevenção ineficazes que
influenciam os jovens a iniciarem o uso de substâncias e apresentam
recomendações específicas para o tratamento de adolescentes usuários de
substâncias.