Autor: Lusa/AO Online
Amy Pope considerou que uma abordagem focada apenas na fiscalização das fronteiras, sem abordar as causas da migração, pode desestabilizar ainda mais os países de origem.
“Se queremos gerir a migração irregular, então é preciso investir na estabilização das populações mais próximas, de onde vem a migração. (…) É uma visão de curto prazo cortar a ajuda externa sem identificar alternativas para garantir que as populações não são deslocadas”, defendeu a diretora-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em entrevista à agência de notícias Associated Press.
Em 2023, Pope tornou-se a primeira mulher a liderar a agência de migrações da ONU, depois de ter desempenhado as funções de conselheira da Casa Branca sobre migração e segurança interna nos governos democratas dos ex-presidentes Barack Obama e Joe Biden.
As declarações de Pope surgem quando os países europeus, incluindo Portugal, estão a adotar políticas de migração mais rigorosas, com mais financiamento para os esforços de deportação e para que os países de trânsito desencorajem os migrantes.
Pope referiu a Síria como uma preocupação particular, alertando que o repatriamento prematuro da população pode ser contraproducente.
“Se os sírios regressarem a casa demasiado depressa e enfrentarem mais desestabilização, mais conflitos, se os seus filhos não estiverem em segurança, se as suas casas continuarem destruídas e não tiverem para onde ir, isso pode acabar por se virar contra si”, explicou.
A responsável das Nações Unidas lembrou ainda que as políticas fronteiriças mais rigorosas dos Estados Unidos já criaram efeitos de cascata em toda a América Latina.
“Estamos a assistir a uma inversão dos fluxos. Não só menos pessoas estão a chegar à fronteira dos Estados Unidos com o México, como mais pessoas estão a dirigir-se para sul”, disse Pope, levantando preocupações sobre a falta de apoio a países ao longo de rotas migratórias alternativas, como o Panamá, a Costa Rica e outros países da América Central.
A responsável mostrou-se otimista sobre a abordagem de Itália, que combina medidas fronteiriças rigorosas com canais de migração legal alargados.
A Itália planeia fornecer quase
500.000 autorizações para trabalhadores de fora da UE, a começar em
2026 e escalonadas ao longo de três anos, num trabalho com os
empregadores para identificar as necessidades de mão-de-obra.