Onésimo Teotónio de Almeida diz que é preciso continuar a defender a literatura
25 de out. de 2019, 19:30
— Rui Paiva/Lusa/AO Online
"As
humanidades não podem morrer. As universidades, hoje, só querem as
engenharias, as matemáticas, as tecnologias, os STEM [sigla inglesa para
designar as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática]. É
um erro crasso. Portanto, tenho sempre defendido as humanidades. Nas
humanidades estão as literaturas e é preciso continuar a defendê-las,
mesmo que não haja mais ninguém, eu vou defendê-las", afirma o açoriano
Onésimo Teotónio de Almeida.O escritor e
professor falou com a agência Lusa em Ponta Delgada, onde esteve esta
semana na apresentação do doutoramento em Literaturas e Culturas
Insulares, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da
Universidade dos Açores (UAc)O professor
catedrático do departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros na
Universidade Brown, nos Estados Unidos, enaltece as virtudes da
literatura, que contribui para o "conhecimento da sociedade" mesmo não
sendo uma ciência social. "É uma outra
maneira de olhar e tocar a realidade, diferente das Ciências Sociais. É
um contributo para o conhecimento da sociedade. É preciso estarmos
atentos ao que se passa lá fora mas não podemos estar em bicos de pés a
olhar só para o que se passa lá fora e esquecer o que se passa cá
dentro. E o que acontece cá dentro, está registado de muitas maneiras, a
literatura é uma delas, e há que estudar isso", destaca. O
escritor assinala que a emergência de "literaturas identitárias", como
reação à tendência globalista dos estudos literários, deve fomentar o
estudo da literatura açoriana."Hoje
fala-se muito em literatura global, mundial e mais não sei o quê, mas,
por outro lado, existe uma reação a chamar a atenção para as literaturas
identitárias: a literatura das mulheres, a dos índios, a dos negros, a
dos ameríndios, a dos mexicanos e porque não também a dos açorianos?",
aponta, assinalando que são "literaturas que são resultado de reflexão
das pessoas no seu meio", reflexão que os "Açores têm feito ao longo de
mais de um século".Questionado sobre a
posição de alguns autores que rejeitam a existência de uma literatura
açoriana, defendendo a integração dos escritores açorianos na literatura
nacional, Onésimo Teotónio de Almeida afirma que são "pessoas que sobre
esse tema não sabem nada"."Primeiro vão
ler o que está publicado por gente como Urbano Bettencourt, Martins
Garcia, Eduíno Jesus e Vamberto Freitas, que têm explicado o que é e
como é que é. Portanto, quem se interessa a sério sobre isso ou leu ou
já aprendeu ou então não leu e não vale a pena pronunciar-me sobre o
assunto porque não me interessa ouvir as pessoas que sobre esse tema não
sabem nada".Autor de várias obras, entre
artigos, crónicas e contos, soma mais de duas centenas de ensaios
publicados em Portugal, Estados Unidos, Brasil, França e Reino Unido.Entre
os mais recentes títulos publicados, contam-se "Correntes D'Escritas
& Correntes Descritas" (2019), "A obsessão da Portugalidade" (2017) e
"O Século dos Prodígios" (2018).Este
último valeu-lhe vários prémios, entre os quais o prémio História da
Presença de Portugal, da Academia Portuguesa de História, e o Prémio
John dos Passos, da Madeira.Sobre o
doutoramento que apresentou, Onésimo Teotónio de Almeida frisou que
"pretende aprofundar a reflexão dos Açores através da literatura e da
cultura".O doutoramento em Literaturas e
Culturas Insulares não tem componente curricular e é ministrado pelo
Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, da FCSH da UAc, sendo
resultado de uma parceria entre a academia açoriana, a Universidade da
Madeira e a Universidade da Córsega, em França.