OMS revela testemunhos “dilacerantes” após bombardeamento de campo de refugiados em Gaza
26 de dez. de 2023, 09:44
— Lusa/AO Online
“A
equipa da OMS registou testemunhos dilacerantes do pessoal médico e das
vítimas sobre os sofrimentos infligidos pelas explosões”, declarou o
chefe da organização da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no X
(ex-Twitter). “Uma criança perdeu toda a
sua família no ataque [israelita] sobre o campo. Uma enfermeira do
hospital teve a mesma perda, toda a sua família foi morta”, acrescentou
na rede social. Segundo ministério de
Saúde do Hamas, pelo menos 70 pessoas foram mortas num ataque na noite
de domingo que atingiu o campo de refugiados de Al-Maghazi, no centro da
Faixa de Gaza. O Exército israelita disse que iria “verificar o
incidente”. Numerosos corpos sem vida, em
sacos mortuários brancos, foram alinhados junto ao hospital Al-Aqsa, em
Deir al-Balah, centro da Faixa de Gaza, antes dos funerais, indicou a
agência noticiosa AFP. Segundo o chefe da OMS, o hospital indicou ter recebido uma centena de feridos após o bombardeamento. “O
número de doentes acolhidos pelo hospital ultrapassa de longe as suas
capacidades em camas e em pessoal”, sublinhou. “Muitos não vão
sobreviver à espera”. “Este último ataque
sobre uma comunidade de Gaza demonstra por que motivo é necessário um
cessar-fogo imediato”, escreveu ainda Ghebreyesus. Sean
Casey, membro da missão da OMS, indicou ter assistido aos cuidados
fornecidos a um rapaz de 9 anos gravemente ferido e de nome Ahmed. “Foi
simplesmente tratado através de um sedativo para aliviar o seu
sofrimento, antes de morrer”, descreveu num vídeo registado em pleno
hospital. “Ninguém conseguiu fazer nada
por ele. Como em tantos outros casos, não existem condições para abordar
casos neurológicos complexos, casos de traumatismos complexos”,
lamentou. “As salas de operações trabalham
24 horas sem interrupção. A sala de urgências está muito abaixo das
suas capacidades”, acrescentou este responsável da OMS. “Uma situação
inaceitável, que tem de parar”, sublinhou. O
mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado após um
ataque sangrento e sem precedentes do movimento islamita palestiniano em
território israelita em 07 de outubro. No
total, 1.140 pessoas, na maioria civis, foram mortas nesse dia, segundo
uma contagem da agência noticiosa AFP a partir dos últimos números
oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados,
com Israel a indicar que 127 permanecem em Gaza. Em
retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita
palestiniano, bombardeia desde 07 de outubro a Faixa de Gaza, onde,
segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas de 20.600
pessoas – na maioria mulheres, crianças e adolescentes – e feridas mais
de 53 mil, na maioria civis, destruídas a maioria das infraestruturas e
perto de dois milhões forçadas a abandonar as suas casas, a quase
totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave. A
população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise
humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de
epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e
eletricidade. Desde 07 de outubro, mais de 300 palestinianos também já
foram mortos pelo Exército israelita e por ataques de colonos na
Cisjordânia e Jerusalém leste, ocupados pelo Estado judaico.