OMS espera que 2019 seja ano de reforço de verbas para combate à malária
31 de dez. de 2018, 09:14
— Lusa/AO Online
“Nos últimos 15
anos houve um progresso como nunca antes, mas esse progresso parou”,
referiu Pedro Alonso, diretor do programa de combate à malária da OMS,
em entrevista à Lusa.As
mortes provocadas pela malária em todo o mundo voltaram a diminuir em
2017, para um total estimado de 435 mil vítimas (menos 3,6% que em
2016), mas calcula-se que o número de casos tenha subido de 217 para 219
milhões. Mais
de 90% dos casos e das vítimas mortais estão no continente africano e a
maioria são crianças, o mesmo padrão de estudos anuais anteriores.“Já não estamos a progredir e historicamente sabemos que neste momento há um risco de regredir”, alertou Pedro Alonso.O
apelo do diretor do programa de combate à malária da OMS para que haja
reforço de verbas nos orçamentos de Estado é dirigido sobretudo para
África.“Muitos
dos grandes contributos na luta contra a malária vieram dos líderes
políticos africanos”, mas para que tal se repita, os dirigentes “têm de
ter a capacidade de fazer refletir os compromissos políticos no
orçamento de Estado nacional”, referiu.Essa aposta no orçamento interno de cada país existe, “mas talvez seja necessário um novo impulso”.O
mesmo deve acontecer nos países livres de malária - como é o caso dos
Estados europeus -, uma vez que a malária “é um dos grandes problemas de
saúde global”.“Sabemos
que já houve países que conseguiram livrar-se da malária, mas tiveram
reintroduções e, portanto, ninguém está a salvo”, sublinhou à Lusa.A atual estagnação no combate à doença fragiliza o objetivo de redução da doença em 40% até 2020, notou a OMS. Além
do mais, para lá chegar, os investimentos deviam alcançar, pelo menos,
6,6 mil milhões de dólares anuais - mais do que o dobro da verba
disponível hoje, referiu à Lusa Kesete Admasu, diretor executivo da
Parceira para Redução da Malária (RBM, sigla inglesa) que junta centenas
de organizações a nível mundial.Aquele
responsável disse acreditar que é fácil convencer os líderes políticos a
entrar nesta luta, porque “apostar no combate à malária é um
investimento inteligente”.“Por cada dólar investido, o retorno é muito maior” em termos de capacidade de produção de riqueza nos países afetados, referiu.Por outro lado, também podem ser colhidos dividendos políticos com relativa rapidez.“Quem
quiser ser reeleito, deve fazer um bom controlo da doença” e só deverá
precisar “de uma época de transmissão de malária” para que os resultados
sejam visíveis.No
fim de contas, “tanto os países endémicos e com os doadores têm de
renovar os compromissos”, sintetiza Pedro Alonso, reconhecendo que os
doadores não podem apoiar sozinhos, “também precisam de ver que há uma
apropriação pelos líderes” dos países afetados, que é refletida “no
orçamento nacional”.Moçambique
é o terceiro país do mundo mais afetado com 5% dos casos de malária no
mundo e o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas),
segundo o relatório anual divulgado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS).Só a
Nigéria (25%) e a República Democrática do Congo (11%) têm mais casos
estimados, o que faz de Moçambique o país lusófono mais atingido pela
malária - Angola surge em 13.º lugar com 2% do total mundial de casos.