OMS elogia modelo nacional que já sinalizou 70 mil crianças em risco desde 2009
28 de nov. de 2019, 18:16
— Lusa/AO online
Um
representante da Organização Mundial de Saúde esteve esta quarta-feira a visitar um
Núcleo de Apoio a Crianças e Jovens em Risco, no Agrupamento de Centros
de Saúde (ACES) de Oeiras, para perceber o que são estas unidades, para
que servem e como funcionam.No final da
visita, em declarações à agência Lusa, a coordenadora do Programa
Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, da Direção-geral de Saúde,
explicou que esta Rede Nacional de Núcleos de Apoio a Crianças e Jovens
em Risco foi criada em 2008 para responder à problemática dos maus
tratos tanto ao nível dos cuidados de saúde primários, como ao nível dos
cuidados hospitalares. Segundo Bárbara
Menezes, desde que começaram a ser feitos relatórios de recolha de
dados, em 2009, que foi possível contabilizar cerca de 70 mil situações
de crianças e jovens em risco.“São cerca de nove mil situações por ano e no ano de 2018 manteve-se nas nove mil situações”, revelou.Acrescentou
que apenas em cerca de 25% dos casos detetados foi preciso encaminhar
para as comissões de proteção de menores ou para os tribunais,
sublinhando que na maior parte das situações, foi possível resolver com a
participação da família, graças ao trabalho do núcleo.A
enfermeira explicou que se trata de equipas multidisciplinares
constituídas por médicos, enfermeiros, técnicos de serviço social e
psicólogos, todos com formação específica e que fazem consultadoria e
prestam apoio às equipas de saúde familiares e às unidades hospitalares.Um
modelo que impressionou o responsável da Organização Mundial de Saúde,
já que vai ao encontro do que a própria organização recomenda como
prática para combater os maus tratos contra crianças e jovens.“Isto
é algo que frequentemente defendemos como um elemento importante na
abordagem que os países devem ter para combater a violência contra as
crianças, que é diferentes setores juntarem-se. E o que aprendi hoje, vi
em ação e posso dizer a outros países é que Portugal conseguiu e têm os
resultados que mostram o impacto deste trabalho intersetorial”, apontou
Yongjie Yon.Referiu que muitas vezes os
países mostram-se céticos quanto aos resultados de uma política deste
género, alegando que não têm os meios ou que é de difícil implementação.“Podemos
partilhar o exemplo de Portugal. Vimos e isto de facto funciona e tem
resultados. Por isso, é importante que recolhamos informação para depois
partilhar a experiência de Portugal noutros países”, defendeu o
representante da OMS, que está em Portugal para participar no seminário
“Saúde Infantil, Promoção e Prevenção”, que decorre sexta-feira, em
Lisboa, e onde vai falar sobre lesões não intencionais na infância.Bárbara
Menezes, da Direção-geral de Saúde, sublinhou que a rede precisa agora
de uma recolha de dados mais fina, a par de uma formação constante e de
investimento no tempo de atuação para cumprir as várias intervenções
previstas.“Na área dos cuidados de saúde
primários já conseguimos ter um sistema de informação com todo o
processo clínico da criança e com as diretrizes de como se realiza a
avaliação de risco familiar e isso ajuda todos os técnicos de saúde a
conseguirem objetivar o que estão a observar com aquela criança e aquela
família”, apontou.Os dados mais atuais da
rede mostram que existem atualmente 289 núcleos em Portugal continental
e Açores, nos quais trabalham 1.050 profissionais de saúde, divididos
entre 41 hospitais com atendimento pediátrico e 248 centros de saúde.O
Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Oeiras abrange uma área
territorial de 61,21 quilómetros quadrados e serve 250.489 utentes, dos
quais 49.663 são crianças com idade entre os zero e os 18 anos.