OIM alerta que pedidos de asilo aumentam por falta de canais regulares de migração
20 de jun. de 2024, 10:29
— Lusa
“Em
Portugal, aquilo que temos vindo a assistir, e até um pouco por toda a
Europa, é a utilização deste mecanismo [de estatuto de refugiado], que
deveria ser considerado excecional, como um mecanismo para regularização
de algumas pessoas” migrantes, disse Vasco Malta, em entrevista à Lusa.
Falando por ocasião do Dia Mundial do
Refugiado, que se comemora hoje, Vasco Malta admite que a “utilização
massiva deste tipo de procedimento pode ofuscar aqueles que efetivamente
precisam, do ponto de vista de risco de vida que correm no seu país de
origem, de pedir a sua proteção internacional”. Mas
isso só acontece porque não existem “canais seguros que permitam
efetivamente às pessoas que, não se enquadrando na perspetiva de
requerentes de asilo, possam, de forma legal, segura e ordenada,
procurar” uma nova vida como imigrante económico. “A
inexistência desses canais legais e seguros [de migração] é que faz com
que muitas destas pessoas se sintam compelidas a usar este mecanismo de
proteção internacional”, o que pode levar a uma banalização do estatuto
de refugiado ou a um rigor excessivo por parte das autoridades
nacionais. “Estamos a falar de pessoas que
foram forçados a fugir das suas casas devido aos conflitos,
perseguições ou desastres e, portanto, é preciso garantir que estes
conseguem ser filtrados, porque, de facto, correm riscos sérios de
vida”, avisou Vasco Malta.“A banalização
[das candidaturas ao estatuto de asilo] ocorre pela inexistência de
outros mecanismos que permitam, de forma regular e legal, aos migrantes
obter a sua regularização”, acrescentou o responsável da OIM.Segundo o Alto Comissariado para os Refugiados, cerca de 117 milhões de pessoas estão deslocadas à força dos seus países. No
caso português, a “OIM tem estabelecido protocolos de colaboração com o
Estado português desde 2018” e, desde então, “conseguiu, de uma forma
humana e digna, ajudar a trazer para Portugal 1297 pessoas, que
procuraram refúgio do nosso país e que tiveram uma oportunidade em
reiniciar o seu projeto de vida”. A OIM identificou os refugiados, tratou dos processos e assegurou exames médicos prévios. A
organização, explicou Vasco Malta “reúne-se com estas pessoas durante
alguns dias, explica-lhes como é a cultura em Portugal, o que vão
encontrar, em que cidade vão viver e, portanto, faz a ponte entre aquela
que era a realidade destas pessoas antes de chegarem a Portugal”.“É
importante destacar que o processo de asilo é sempre um processo
individual”, porque “ninguém nasce refugiado” e é necessário analisar
casa caso, à luz da Convenção de Genebra e dos mecanismos de proteção
internacional.“As normas do requerente de
asilo servem, primeiro que tudo, para proteger as pessoas que fogem de
forma legítima relativamente a perseguições que são vítimas” e trata-se
de um mecanismo que deve ser considerado excecional, concluiu ainda o
responsável da OIM.