Autor: Carlota Pimentel
Após duas décadas de carreira na justiça, Ana Margarida Carvalho trocou a área pelas artes plásticas. Aos 56 anos, a madeirense, a viver nos Açores há mais de 30 anos, decidiu abandonar o emprego e dedicar-se em exclusivo à pintura, mais concretamente às aguarelas.
Em entrevista ao Açoriano Oriental, Ana Margarida Carvalho relata que a decisão foi motivada, em parte, por um episódio de burnout, vivido no ano passado.
A artista conta que “há muito tempo que já estava insatisfeita com a carreira de oficial de justiça”, situação que se agravou após uma mudança de funções para o Ministério Público, onde lidava maioritariamente com casos de violência doméstica.
A antiga oficial de justiça explicou que, apesar de ter experiência na área, não se conseguiu adaptar à nova realidade. A situação culminou num pedido de exoneração entregue a 5 de março deste ano, depois de ter solicitado, sem sucesso, uma licença sem vencimento.
“Não foi uma decisão fácil”,
confessou, sublinhando que ficou “sem ordenado, sem reforma, sem nada”.
Apesar da incerteza, considera que “tem tudo para correr bem”.
Foi nessa fase de mudança que recebeu o convite do presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, para realizar uma exposição. Após alguma hesitação, aceitou.
A exposição intitulada “Mãos que Escutam” foi inaugurada a 3 de abril, no Centro Municipal de Cultura, e reúne 21 aguarelas da sua autoria. A curadoria ficou a cargo de Margarida Andrade. As obras, centradas sobretudo em paisagens da ilha de São Miguel, foram criadas após o convite, entre outubro e março.
Por
considerar que “nunca nenhuma aguarela está boa o suficiente para
expor, pensei que tinha que fazer outras melhores”, revela,
acrescentando que os trabalhos patentes na exposição “são todos sobre a
minha forma de observar as paisagens de São Miguel e do meu amor por
esta ilha, que nem é a minha”.
Ana Margarida Carvalho começou a
pintar há cerca de cinco anos, depois de os filhos terem saído de casa. A
artista relembra que a primeira tentativa num encontro de urban
sketchers não correu como esperado.
“Fomos pintar o Forte de São
Brás e correu muito mal. Eu queria fazer o desenho, mas não sabia ainda
as dimensões, nem calcular o tamanho e só coube a chaminé do Forte”,
recorda, entre risos. Mas a persistência levou-a a continuar e “as
pinturas do sábado já não chegavam”. Desde então, tem investido em
material e aprendido por conta própria.
Entre os temas recorrentes
das suas obras, estão os galos, que diz pintar com frequência. “Faço,
pelo menos, um galo por mês e todos os galos que faço, vendo, não sei
porquê”, referiu.
Ana Margarida Carvalho descreve a inspiração como algo que encontra no quotidiano,especialmente na natureza. “Quando abro a janela e o céu é tão inspirador. As nuvens são sempre tão lindas. Tem tantas cores no céu, os tons de azul, mas também os laranjas e outras cores. E a quantidade de verdes que esta ilha tem... Basta-me abrir a janela e fico logo inspirada”, realça.
As suas obras estão espalhadas por diversos países, como Alemanha, Estados Unidos, Canadá e outros da Europa.
Sobre o futuro, não traça grandes planos. “A única coisa que quero é poder viver a fazer o que gosto”, disse, referindo que não ambiciona fama nem riqueza, mas sim continuar a pintar.
Refira-se que a exposição está
patente até 8 de maio, no Centro Municipal de Cultura, e pode ser
visitada de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 17h00, e aos sábados
entre as 14h00 e as 17h00.