Em declarações à Lusa, Ana Rita Cavaco
garantiu não ter ficado surpreendida com a saída de Marta Temido e notou
que as “profundas divergências” que teve com a ex-governante ao longo
de quase quatro anos deixam-na à vontade para defender que o problema
não passa pelo nome do titular da pasta da Saúde.“As
decisões que se tomam relativamente ao setor – não é só o Serviço
Nacional de Saúde (SNS) - são decisões que estão em consonância com o
primeiro-ministro. A estratégia não é de uma pessoa só”, destacou a
bastonária, que continuou: “É uma questão de ideologia e do que está por
detrás das decisões que se tomam e dos recursos colocados à disposição
para tomar ou não essas decisões, porque os problemas estão
identificados há muitos anos.“Somos um
país que escolhe pôr dinheiro na banca e na TAP ao invés do SNS. Sem um
mínimo não é possível fazer as reformas que estão identificadas há
muito”, acrescentou, acentuando a responsabilidade de António Costa: “É o
chefe do executivo. Portanto, Marta Temido trabalhou com as condições
que lhe deram e fê-lo em consonância com o primeiro-ministro”.Segundo
a bastonária da OE, havia já um “desgaste muito grande” em torno de
Marta Temido. Contudo, a maior preocupação de Ana Rita Cavaco centrou-se
na definição de respostas para os problemas apontados pelos enfermeiros
e na necessidade de reformas estruturais que entendeu serem “decisivas”
para as pessoas.“O que nos preocupa agora
é quem vai a seguir e se vai fazer aquilo que é necessário: vão rever a
carreira dos enfermeiros? Vão finalmente negociar o internato? Vão ter
medidas de fixação para enfermeiros?”, questionou a responsável, sem
deixar de lembrar “os enfermeiros que estão a sair das escolas e a
emigrar para países estrangeiros sem uma medida de fixação”, com exceção
para os contratos de quatro meses.Confrontada
sobre o nome do futuro titular do Ministério da Saúde e a expectativa
de um melhor relacionamento com a tutela, a bastonária assumiu que “pode
ser obviamente melhor” e lembrou inclusivamente o nome do secretário de
Estado Adjunto e da Saúde.“António
Lacerda Sales tem uma ótima relação com todos os intervenientes do
setor. É evidente que isso ajuda e gostamos sempre muito mais de
trabalhar e de resolver problemas com pessoas simpáticas e que conseguem
interagir connosco do que com uma pessoa que, no caso da OE, nos fez
uma sindicância, porque não gostava do trabalho que fazíamos”,
finalizou.A ministra da Saúde, Marta
Temido, apresentou hoje a demissão por entender que “deixou de ter
condições” para exercer o cargo, demissão que foi aceite pelo
primeiro-ministro, António Costa.