O mandato mais longo da rainha que não estava destinada
Óbito/Isabel II
8 de set. de 2022, 18:02
— Lusa/AO Online
Elizabeth
Alexandra Mary Windsor nasceu em 21 de abril de 1926 na casa dos avós
maternos, em Londres, e não estava destinada ao trono.Porém,
a história mudou de rumo quando o tio sem filhos, Eduardo VIII, abdicou
em 1936 para se casar com Wallis Simpson, uma norte-americana
divorciada duas vezes, pondo fim a uma calma vida familiar.O
irmão, e pai de Isabel, George VI, herdou o trono, abrindo o caminho da
coroa à primogénita, que, no dia dos 21 anos, prometeu dedicar a vida
“seja longa ou curta", a servir o país.Durante
a Segunda Guerra Mundial, permaneceu sobretudo no castelo de Windsor,
evitando os bombardeamentos de Londres, mas mais tarde serviu como
voluntária no Serviço Territorial do Exército como motorista e mecânica.
A 20 de novembro de 1947, Isabel
casou-se com Filipe, um primo distante que renunciou aos títulos de
príncipe da Grécia e da Dinamarca à carreira na Marinha Real britânica
para se consagrar ao papel de príncipe consorte.A
cerimónia foi relativamente discreta devido aos tempos de crise após a
guerra e a princesa teve que usar senhas de racionamento para pagar os
tecidos do vestido.O casal viveu em Malta entre 1949 e 1951, enquanto o príncipe Filipe cumpria uma comissão de serviço na Frota do Mediterrâneo.Quando
George VI morreu aos 56 anos, em 1952, Isabel tornou-se rainha com
apenas 25 anos, então mãe de dois filhos, Carlos (nascido em 1948) e Ana
(1950). Teve mais dois filhos já em funções, André (1960) e Eduardo
(1964).A cerimónia da coroação, na Abadia
de Westminster em 02 de junho de 1953, foi transmitida pelo rádio em
todo o mundo e, a pedido da rainha, pela primeira vez na televisão,
atraindo uma audiência de milhões de pessoas.Ao
longo de sete décadas, a rainha visitou 132 países e cruzou-se com
muitas figuras como o primeiro primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal
Nehru, imperador japonês Hirohito, o líder antiapartheid da África do
Sul Nelson Mandela ou o primeiro presidente negro dos EUA, Barack Obama.A 09 de setembro de 2015, a rainha tornou-se a monarca há mais tempo em funções, superando a trisavó Vitória.Ao
mesmo tempo, viu encolher o extenso império britânico da era vitoriana,
no qual se dizia que o sol nunca se punha, devido à descolonização,
transferência de Hong Kong para a China em 1997 e fim de laços com a
coroa britânica, como fez Barbados recentemente.Apesar
das crescentes pressões, conseguiu proteger a família real dos ataques
aos privilégios herdados e tornou-se num pilar essencial de um país
multiétnico cada vez mais fraturado por divisões políticas, sociais e
até regionais.Apesar do respeito consensual que conquistou, o reinado teve também muitos altos e baixos.O
conto de fadas que foi o casamento em 1981 do herdeiro Carlos com Diana
azedou rapidamente, apesar do nascimento dos dois filhos William e
Harry.Em 1992 declarou "annus horribilis” o
período marcado pelo desmoronamento dos casamentos de três dos filhos,
Carlos, Ana e André, e o devastador incêndio no castelo de Windsor, uma
das residências oficiais.Em 1997, a rainha
foi acusada de estar fora de sintonia com a população que chorou a
morte de Diana num acidente de viação em Paris ao permanecer na
propriedade rural na Escócia durante dias antes de regressar a Londres e
agradecer pelas inúmeras flores e mensagens deixadas à porta do Palácio
de Buckingham.Porém, nas duas décadas
seguintes conduziu uma reviravolta notável para a monarquia, ajudada por
uma poderosa máquina de comunicação ativa não só nos tabloides mas
também nas redes sociais.A rainha cortou o
orçamento do Palácio, e o casamento de William com a plebeia "Kate”
(Catherine) Middleton ajudou a projetar a imagem de uma monarquia mais
moderna. A reputação que construiu nos
últimos anos de devoção sóbria permitiu também distanciar-se das
polémicas causadas pelo príncipe Harry e esposa Meghan e pelos
escândalos protagonizados pelo príncipe André.Durante
os confinamentos da pandemia covid-19, interveio com comunicações
públicas cujo tom conciliou a gravidade da situação com uma mensagem de
esperança. O sentido de abnegação ficou
espelhado nas imagens das cerimónias fúnebres do marido, que morreu em
abril de 2021 aos 99 anos, às quais assistiu afastada da família por
causa das restrições em vigor. Após o
internamento no hospital por uma noite, no ano passado, ficou evidente o
declínio na saúde da rainha e o Palácio reduziu a carga de trabalho da
monarca nonagenária, com o príncipe Carlos e outros membros da família
real a representá-la em visitas ao estrangeiro e outros compromissos
públicos. Ainda assim, aceitou participar
num vídeo humorístico com o “Urso Paddington” para ser projetado durante
as celebrações do Jubileu de Platina, em junho, e fez algumas aparições
públicas na Escócia em junho. Além dos quatro filhos, tem oito netos e 12 bisnetos.No
prefácio de uma biografia escrita pelo antigo ministro Douglas Hurd, o
neto William resumiu a personalidade da soberana como uma pessoa
“bondosa e com sentido de humor, um sentido inato de calma e visão e
amor pela família”. Isabel II morreu na sua residência de Balmoral, na Escócia, junto dos membros mais próximos da família real britânica.