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“O insucesso e o abandono escolar são problemáticas multidimensionais”

Coordenadora do projeto “Exceção Excecional” fala sobre esta iniciativa implementada no presente ano letivo na Escola Básica e Secundária do concelho que tem o objetivo de combater o absentismo e o insucesso escolar


Autor: Rafael Dutra

“Exceção Excecional” é um projeto de intervenção psicossocial multinível cujo principal objetivo passa pela melhoria da satisfação escolar dos alunos da Escola Básica e Secundária da Povoação (EBSP) e pela promoção do seu bem-estar, implementado este ano letivo, abrangendo cerca de 45 alunos de quatro turmas (três do 7.º ano e uma do 9.º).

Em entrevista ao Açoriano Oriental, a coordenadora deste projeto, Célia Barreto Carvalho indica que a génese de “Exceção Excecional” surge num pedido da EBSP à Câmara Municipal da Povoação numa “tentativa de disponibilização de suporte à comunidade educativa na procura de soluções para um conjunto de problemáticas escolares, nomeadamente o absentismo e o insucesso escolar”.

Na sequência desse pedido, foram criadas sinergias entre diferentes entidades, como o Gabinete de Ação Social da Câmara Municipal da Povoação, a Fundação Gaspar Frutuoso e a Universidade dos Açores (UAc), para a criação de um projeto que responda às dificuldades específicas da comunidade educativa.

Questionada sobre que intervenção está planeada para os alunos, Célia Barreto Carvalho diz que, com base num levantamento de necessidades junto de alunos, “entendeu-se que a intervenção com os jovens por si só seria insuficiente”, razão pela qual foi adotada uma “abordagem multinível”.

“Para além da intervenção individual, também se prevê a intervenção na escola, na família e na própria comunidade. A nível individual pretende-se a disponibilização de sessões de acompanhamento psicológico individual e de sessões de grupo onde se trabalharão, entre outras, as competências socioemocionais. Ao nível familiar e escolar, ou seja, junto dos agentes educativos, prevê-se a realização de sessões de grupo de desenvolvimento pessoal e de promoção de competências socioemocionais”, explica.

E acrescenta: “Por fim, e ainda que possa não se vir a verificar no presente ano letivo, estão previstas intervenções com o objetivo de promover a integração dos jovens na comunidade, diversificando as oportunidades e fomentando o seu sentido de pertença”.

Tendo em conta que um dos focos do projeto é a sustentabilidade, a coordenadora do projeto diz que é necessário “garantir que a comunidade educativa adquira as competências que lhe permitirá lidar com desafios futuros”, através de um envolvimento ativo na “identificação de dificuldades e na construção das medidas para criação de um contexto escolar mais seguro e motivador”.

Nesse sentido, prossegue,  foi constituído um grupo de trabalho com os parceiros envolvidos que conta não só com os docentes, mas também com os auxiliares de educação da EBSP, sendo que se pretende envolver ainda os diretores de turma das tas turmas sinalizadas para “partilha e reflexão acerca das dificuldades e desafios vivenciados por todos os intervenientes da escola e, também, pela família na sua relação com esta instituição”.

Relativamente aos desafios no combate ao insucesso e abandono escolar, a coordenadora do projeto salienta que o ”insucesso e o abandono escolar são problemáticas multidimensionais”, que passam por fatores sociais e familiares.

Deste modo, utiliza como exemplos a “falta de motivação e nas baixas expectativas dos alunos acerca do seu desempenho”, que podem estar associados aos conteúdos e aos métodos utilizados nas aulas. Se estes não estiverem adaptados às capacidades dos alunos, acrescenta, “há uma maior probabilidade de não se esforçarem e de não serem bem-sucedidos, o que contribuiu para a construção de uma autoimagem negativa e a uma menor motivação para aprender”.

Para finalizar, Célia Barreto Carvalho salienta que para ajudar um aluno a ultrapassar dificuldades é preciso ter em consideração a “sua complexidade e a multiplicidade de fatores associados ao surgimento das mesmas”, e que é importante  “promover a motivação, trabalhar as competências socioemocionais e disponibilizar apoio psicossocial”.