“O gosto pelos ralis já veio no meu código genético”
30 de set. de 2022, 07:56
— Rui Jorge Cabral
Este ano, Max Salvador tem previsto correr pela primeira
vez fora da sua ilha de Santa Maria no Rali Além Mar Ilha Lilás, que se
disputa nas estradas de asfalto da ilha Terceira nos dias 28 e 29 de
outubro, mas ainda não reuniu todas as condições para poder concretizar a
sua presença na última prova do Campeonato dos Açores de Ralis deste
ano.Max Salvador é natural de Vila do Porto, em Santa Maria, tem 37
anos e é tripulante de cabine na SATA Air Açores. O seu pai, José
Salvador, também foi piloto de ralis e, por isso, é com naturalidade que
Max afirma que “o meu gosto pelos ralis já veio inserido no meu código
genético”. Desde criança “estive envolvido nestas andanças”, recorda Max
Salvador, afirmando que “muitos marienses têm o sonho de fazer o rali”
da sua ilha. No caso de Max Salvador, a oportunidade surgiu através do
convite do seu amigo e navegador de sempre, João Valente, tendo a
estreia ao volante acontecido no Rallye Além Mar de Santa Maria, em
2012, com um Toyota Yaris, que terminou no 10.º lugar à geral, primeiro
da sua classe.“Senti-me nervoso, como acho que toda a gente se sente
da primeira vez”, recorda o piloto mariense, salientando que nesse rali
de estreia “fiz aquilo que achava que deveria fazer, que era fazer as
coisas com cabeça em respeito por aquilo que não era meu”, uma vez que o
carro era alugado “e sempre foi um dos meus objetivos trazer os carros
inteiros ao fim, sendo os carros meus ou não”.Em 2013, Max Salvador
adquiriu o seu primeiro carro, um Citroën Saxo Cup e depois de mais
alguns ralis com carros alugados, adquiriu no final de 2018 o seu atual e
mais competitivo carro, o Citroën C2 R2 Max - um carro que curiosamente
tem o seu nome e que o piloto chama carinhosamente de ‘Max ao quadrado’
- com que fez o Rallye Além Mar de Santa Maria em 2019 (com um 4.º
lugar à geral, a sua melhor classificação no rali mariense) e neste ano
de 2022.Piloto rápido e consistente, Max Salvador seria seguramente
um animador do Campeonato dos Açores de Ralis na competição dedicada às
duas rodas motrizes (2RM), se tivesse possibilidades financeiras de
fazer mais ralis, o que não aconteceu até hoje. Nas condições atuais, só
tem sido possível ver Max Salvador correr no rali da sua terra, um dos
mais populares do Campeonato dos Açores. “Feliz ou infelizmente só tenho
feito ralis em Santa Maria”, começa por dizer Max Salvador:
“felizmente, porque tenho a sorte de fazer os ralis em casa e
infelizmente, porque sou eu que me abraço às contas e a falta de apoios é
um entrave a quem gosta de praticar este desporto... Porque fazer mais
provas sozinho, da minha algibeira, é completamente impossível, uma vez
que o meu ‘porquinho mealheiro’ é feito apenas para o Rali de Santa
Maria”.Para fazer o rali mariense, Max Salvador leva consigo uma
pequena equipa de amigos, com um ou dois mecânicos, considerando que a
grande mais-valia do projeto neste momento é o carro, o Citroën C2 R2
Max, “que se faz acompanhar de um manual que só não explica a maneira de
conduzir”, afirma o piloto em jeito de brincadeira. E é com base nesse
manual e nas suas indicações, explica Max Salvador, que o carro é
afinado no alinhamento da direção, na altura em relação ao solo ou nos
‘clics’ da suspensão, aspetos que, de outra forma, necessitariam de
muitos quilómetros de testes, com despesas com pneus, combustível e
mecânica que Max Salvador não tem possibilidades de realizar. Até
porque, conclui o piloto, “o C2 não se costuma ‘benzer’ quando é para
pedir material... Ele não pede licença e o material é muito caro”.Dos
vários Ralis de Santa Maria que já realizou, Max Salvador recorda o de
2016, que fez com um Peugeot 106 emprestado e terminou em 6.º lugar da
geral, sendo pela primeira vez o melhor piloto mariense, bem como a
estreia em 2019 com o Citroën C2 R2 Max e, sobretudo, o rali deste ano,
“porque, uma semana antes, partimos o motor”, explica o piloto. Max
Salvador lembra também que chegou mesmo a dizer ao mecânico André Simas,
da ilha Terceira, que tinha convidado para lhe prestar assistência
durante o rali, que ele podia fazer na mesma a viagem a Santa Maria, mas
só para ver a prova... Surpreendentemente, a resposta do seu mecânico
foi: “sem fazer o rali tu não ficas, nem que eu tenha que desmontar o
motor do meu carro para montá-lo no teu”! E foi assim, com ajuda do seu
mecânico e da sua restante equipa de grandes amigos, que Max Salvador
conseguiu fazer a prova e, mesmo com alguns problemas mecânicos,
terminá-la como o melhor classificado entre as 2RM, um resultado que
agradece à sua equipa “que deu mais do que o ‘litro’, como costumamos
dizer, foram noites sem dormir à roda do carro para tentar deixar tudo a
100% e... Conseguimos”!