O ano três da pandemia e da esperança de novos medicamentos e vacinas
2022
24 de dez. de 2021, 15:50
— Lusa/AO Online
Com a vacinação abaixo das expectativas em
grande parte do mundo – menos de 10% das populações dos países de
menores rendimentos receberam uma dose -, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) não prevê o fim da pandemia, alegando que as infeções continuam a
avançar a duas velocidades.“Só quando, a
nível mundial, houver uma taxa de vacinação de pelo menos 80% da
população é que iremos assistir a uma evolução para endemia”, segundo o
virologista José Miguel Pereira à Lusa.Uma
pandemia é declarada pela OMS quanto é detetada uma epidemia em mais do
que dois continentes, evoluindo para uma endemia quando o número de
doentes ou infetados ocorre de forma contínua e expectável numa área
geográfica bem identificada.De acordo com o
investigador da Unidade da Interação Hospedeiro-Patogeno do Instituto
de Investigação de Medicamentos (iMed.ULisboa) da Universidade de
Lisboa, a única forma de evitar o processo de replicação do SARS-CoV-2,
que gera mutações do vírus, é “através de uma campanha de vacinação à
escala mundial em que todos as regiões geográficas sejam contempladas
com o esquema vacinal completo”.Enquanto
isso não acontece, as atenções estão centradas na variante Ómicron,
identificada pela primeira na África Austral e classificada como de
preocupação pela OMS em novembro, tendo sido já detetada em pelo menos
77 países, incluindo Portugal.Para o
farmacêutico José Aranda da Silva, antigo presidente do Autoridade
Nacional do Medicamento (Infarmed), 2022 poderá ser também o ano em que
chegarão ao mercado os primeiros tratamentos antivirais específicos para
a covid-19.“É expectável que sejam
aprovados no próximo ano os primeiros antivíricos com eficácia
específica significativa”, salientou à Lusa ex-bastonário da Ordem dos
Farmacêuticos.De acordo com Aranda da
Silva, além do aperfeiçoamento das vacinas para responder às novas
variantes, começa a desenhar-se uma nova geração com proteínas
(peptídeos) que “atuarão de forma mais eficaz e com maior estabilidade”.À
entrada do terceiro ano de pandemia, os dados parecem indicar que a
covid-19 tem características sazonais, com duas ondas anuais no inverno e
no verão, estando a começar a vaga do inverno do próximo ano.Ao
nível da vacinação, no final do primeiro trimestre do próximo ano
ficará concluída a vacinação das mais de 600 mil crianças entre os 05 e
os 11 anos e deverá avançar a dose de reforço por faixas etárias
decrescentes, nos grupos dos maiores de 50 anos.O
próximo ano deverá ainda colocar em evidência a situação das pessoas
que recuperaram da infeção, mas que permanecem em situação debilitante,
devido ao chamado “longo covid” e que apresentam sintomas como fadiga,
falta de ar e disfunção cognitiva.Dados da
associação Long Covid Europe estimam que pelo menos 10% dos infetados –
cerca de 120 mil pessoas no caso de Portugal - continuam a apresentar
sintomas debilitantes graves por mais de seis meses, o que obriga os
serviços de saúde também a dar resposta a estes casos.A
OMS já adiantou que são necessários cerca de 20 mil milhões de euros
para apoiar os países menos desenvolvidos a combater a pandemia no
próximo ano, um plano para evitar cinco milhões de mortes e vacinar 70%
da população mundial até meados de 2022, um objetivo que os
especialistas consideram essencial para controlar o ritmo de infeções.