Nuvens dos Açores inspiram livro de fotógrafo e cientistas
26 de abr. de 2023, 08:30
— Rafael Dutra/Paula Gouveia
A editora micaelense Araucária Edições publicou o livro “Nuvens”, o
primeiro da Coleção Azorica, escrito por meteorologistas e com
fotografias de Alberto Plácido, cujo objetivo é mostrar as nuvens nos
céus dos Açores, de um ponto de vista visual e científico, fazendo uma
junção de arte e ciência.Blanca Martín-Calero, editora do livro e
criadora da Araucária Edições, em entrevista ao Açoriano Oriental,
explica que: “A ideia deste livro parte de querer dar a conhecer temas
relacionados com os Açores, a partir de uma perspetiva um pouco
diferente. Então, as nuvens, como é um fenómeno muito presente no
arquipélago - achámos que era um bom tema para começar a Coleção
Azorica, uma coleção que quer juntar ciência e arte e criar uma nova
abordagem sobre os temas”.O livro foi criado para tornar acessível, à
maior parte das pessoas, conhecimentos de áreas específicas e pouco
faladas, sobre cientistas dentro dos seus circuitos de investigação e
artistas dentro de galerias e outros circuitos. É, portanto, um diálogo
entre dois mundos, uma parte mais científica e outra mais visual, neste
caso, relativamente às nuvens.Embora o tema do livro seja
científico, por natureza, Diamantino Henriques, meteorologista do
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explicou ao Açoriano
Oriental que o livroé para o “público em geral” e não apenas para “os
entendidos das nuvens, para os meteorologistas e para os técnicos”.A
obra inicia-se com fotografias a preto e branco das nuvens, “numa
sequência toda seguida em que nos metemos noutro mundo e depois temos o
texto”, diz Blanca. O texto, por si, começa inicialmente com uma
abertura poética de Eduardo Brito, seguido de uma reprodução em
miniatura das imagens iniciais, completadas com o texto científico e por
uma fotografia satélite e carta meteorológica no momento em que a
fotografia da nuvem foi tirada, sendo que aí está colocado o nome da
nuvem, uma breve descrição da mesma e as circunstâncias meteorológicas
em que se formou.“Nuvens” foi escrito por Diamantino Henriques,
Fernanda Carvalho e Patrícia Vicens, meteorologistas do IPMA, e conta
ainda com fotografias de Alberto Plácido, ensaio poético de Eduardo
Poético, design de José Albergaria, revisão de texto de Sara Ludovico e
Clara Távora Vilar e revisão científica de Maria Orgaz. Segundo
Diamantino Henriques, abordar este tema “é muito importante porque as
nuvens fazem parte da paisagem dos Açores. Nem sempre estão presentes,
mas nos Açores é uma constante. É raro o dia em que não encontramos uma
nuvem”.O meteorologista sublinha ainda que “as nuvens desde sempre
foram um objeto de arte e até de admiração. Elas têm razão física de
existir e foi por isso que quisemos também explicar a partir das
fotografias”.A experiência de, a partir de fotografias a preto e
branco, identificar nuvens e caracterizá-las, foi no entanto, um desafio
para o meteorologista. Diamantino Henriques reflete que “mostrar e
explicar, do ponto científico, cada nuvem que foi apresentada”foi o
“maior desafio”. Contudo, considera que foi uma experiência “engraçada e
gratificante”.“As fotografias a preto e branco introduzem um certo
dramatismo e textura. Realçam certas coisas que as fotografias a cores
não realçam tanto. Essa foi um pouco a sensação que nós tivemos, em
termos de dificuldades”, adianta o meteorologista. “Nuvens” foi
lançado no passado dia 19 de abril, num lugar com alguma importância
relativamente ao tema do próprio livro: “Fizemos na antiga Academia das
Artes, a antiga Igreja da Graça, porque foi lá o primeiro posto
meteorológico de Ponta Delgada”, conta a editora.O evento de
lançamento do livro, que contou com a presença de “bastante gente”, teve
comentários “muito positivos”, sobretudo pela particularidade do livro,
caracterizado por estar muito “bem feito e impresso”, com “muitos
detalhes de design”, fatores apreciados pelas pessoas que destacaram a
“junção da ciência e arte”, refere Blanca.No horizonte estão
previstos, para a editora Araucária Edições, e em específico para a
Coleção Azorica, mais projetos dinâmicos que conjugam a arte e ciência e
os próprios Açores.