Nuno Ribeiro diz que havia doping na W52-FC Porto pago por Adriano Quintanilha
18 de nov. de 2024, 15:59
— Lusa/AO Online
Nuno
Ribeiro, que falou pela primeira vez no julgamento da operação ‘Prova
Limpa’, com 26 arguidos, incluindo ex-ciclistas, e que decorre num
pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, pediu
para prestar declarações na ausência dos restantes arguidos, alegando
ter vindo a “sofrer pressões e ameaças”, nomeadamente do também arguido
Adriano Teixeira de Sousa, conhecido como Adriano Quintanilha.O
vencedor da Volta a Portugal de 2003 começou por ler uma declaração
escrita, na qual admite que o seu único erro foi saber o que se passava
no seio da equipa e não ter tido a capacidade para dizer não, por
depender economicamente do cargo que exercia, refutando a acusação de
que era o “cérebro” do esquema de consumo de substâncias dopantes e
atribuindo esse papel ao então dono da W52-FC Porto.Nuno
Ribeiro frisou que nunca exigiu, incentivou ou forçou algum ciclista a
tomar substâncias dopantes, admitindo, contudo, que iam falar com ele,
designadamente, para perguntar como é que podiam “tomar doping” sem
serem detetados.Ribeiro garantiu que nunca
usou a sua ascendência profissional para que os ciclistas “tomassem
doping”, mas apenas para que fossem melhores, salientando que os
aconselhava a não ingerirem determinadas substâncias, que “usavam como
entendiam”.“Não me senti um criminoso. Fui
um fraco por ceder. Devia ter dito não e não [ao doping]. Sinto-me
triste e arrependido. Sei o quanto errei e peço desculpa à sociedade, a
todos, mas sobretudo aos meus atletas”, afirmou, em tom emocionado,
dizendo, mais à frente, que nunca comprou ou vendeu substâncias
dopantes, pedindo ao tribunal que não lhe aplique uma pena privativa da
liberdade.Sobre o esquema de doping na
W52-FC Porto, segundo Nuno Ribeiro, era financiado e incentivado pelo
então patrão da equipa, entre 2020 e 2022.O
ex-diretor desportivo revelou ao tribunal que a toma de substâncias
dopantes pelos ciclistas “era regular durante toda a época desportiva” e
o financiamento para esse fim advinha do então dono da equipa e ocorria
“durante o ano civil todo”.Além do
ordenado, de acordo com este arguido, Adriano Quintanilha entregava
dinheiro, mensalmente, aos ciclistas para pagarem as substâncias
dopantes, que adquiriam através da internet, de farmácias ou de outras
formas.Nuno Ribeiro explicou que, para
“mascarar esses pagamentos”, o antigo patrão da W52-FC Porto usava
“ajudas de custo fictícias”, com quilómetros ou despesas particulares,
como almoços, que nunca foram realizados, razão pela qual a defesa
requereu hoje ao tribunal o levantamento do sigilo bancário de uma conta
da Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo – o clube na origem da
equipa -, que seria usada para efetuar esses pagamentos.Nuno
Ribeiro contou ainda que “a generalidade” da equipa da W52-FC Porto
“sabia que havia doping e que quem financiava era o senhor Adriano”.“Nunca
tive dinheiro para o doping, nem instiguei ao uso do doping. Foi e
sempre o senhor Adriano que o fez. O senhor Adriano gastava milhares de
euros a patrocinar essas práticas dopantes”, afirmou o ex-diretor
desportivo.Segundo Nuno Ribeiro, o
discurso de Adriano Quintanilha em todas as provas “era sempre o mesmo”,
falando em “ditador e mestre da manipulação”.“O
do quero, posso, mando e pago. Ele sabia de tudo, queria ganhar a todo o
custo e dizia: ‘pago para ganhar e ganho’. Atirava isso à cara dos
ciclistas e ameaçava. O ambiente era infernal”, declarou.Ribeiro
revelou que Quintanilha já o abordou três vezes para que “assumisse a
culpa toda”, em troca de 2.000 euros por mês durante dois anos, o que
nunca aceitou, acrescentando ter saído do último encontro “cheio de
medo”, pois Quintanilha “ameaçava, insultava e humilhava todos”.