Número de vítimas de tráfico humano aumenta 25% e mulheres são maioria
11 de dez. de 2024, 16:00
— Lusa/AO Online
As conclusões
são do "Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas 2024", divulgado
pelo UNODC, e que abrange 156 países de todas as regiões e sub-regiões
do mundo (95% da população mundial), com dados do período 2020-2022 e
outros preliminares de 2023 fornecidos apenas por 72 Estados.O
relatório aponta um aumento de 25% no número de vítimas de tráfico
detetadas globalmente em 2022, em comparação com os números pré-pandemia
de 2019. Entre 2019 e 2022, o número global de vítimas de tráfico para
trabalho análogo ao escravo aumentou 47%. No total, entre 2020 e 2023, o número de vítimas de tráfico reportadas pelos Estados-Membros ascendeu a 202.478."Essa
tendência pode ser atribuída ao aumento de 31% em crianças detetadas em
comparação com o período anterior à pandemia de Covid-19", aponta o
relatórioAs vítimas são traficadas
globalmente através de um número crescente de rotas internacionais, com
vítimas africanas para o maior número de destinos.Em
2022, a maioria das vítimas de tráfico humano eram mulheres e meninas
(61%). Embora tenha aumentado o número de vítimas menores de idade desde
2019, os adultos continuam a ser a faixa etária mais registada, e as
mulheres adultas representam 39% das vítimas.A
maioria das mulheres e meninas identificadas entre as vítimas continua a
ser traficada para fins de exploração sexual. No entanto, as vítimas
femininas são também traficadas em grande número para trabalho forçado,
particularmente para trabalho doméstico e para outros tipos de
exploração, incluindo casamentos forçados e criminalidade.Enquanto
as edições anteriores deste relatório mostraram como o tráfico de
crianças, especialmente no contexto de trabalho forçado, normalmente
ocorria em países de baixos rendimentos, dados recentes mostram que,
embora o tráfico de crianças ainda seja detetado nessas zonas, tem-se
registado um aumento nos países de altos rendimentos.Tal ocorre principalmente no caso de meninas traficadas para exploração sexual (60%)."O
tráfico de meninas para fins de exploração sexual está a registar um
aumento alarmante em muitas regiões do mundo. A comunidade internacional
e as autoridades nacionais devem aumentar os esforços para prevenir
essa forma de tráfico, para garantir investigações centradas na vítima e
informadas sobre o trauma, assim como programas de proteção e
assistência personalizados para meninas vítimas", instou o UNODC.Já
o número crescente de crianças ao longo das rotas migratórias pode
explicar o crescente número de meninos traficados. Após a pandemia, mais
crianças desacompanhadas e separadas foram registadas nas fronteiras da
Europa e América do Norte, regiões onde mais meninos são vítimas de
tráfico."Em 2022, crianças representaram
38% das vítimas detetadas globalmente. Meninas (22% do total de vítimas)
foram mais tipicamente traficadas para exploração sexual e, em menor
extensão, para trabalho forçado e outras formas de exploração, como
casamento forçado. Meninos (16%) foram principalmente traficados para
trabalho forçado e outras formas de exploração, tipicamente
criminalidade forçada", frisa o levantamento.Desde 2019, registou-se um aumento de aproximadamente 31% nas vítimas infantis, de 38% entre meninas.Já
no contexto de conflitos em andamento e desastres induzidos pelo clima,
o risco de tráfico de pessoas está a aumentar como uma das
consequências diretas da instabilidade global e das mudanças climáticas,
resultando em populações deslocadas à força, conclui o relatório.Num
olhar mais amplo para os tipos de tráfico humano, desde 2019
que o trabalho forçado registou maiores aumentos (por 100.000
habitantes) do que o tráfico para exploração sexual e para outros
propósitos."O tráfico para trabalho
forçado aumentou em 47% globalmente quando comparado com o período
anterior do início da pandemia de Covid-19", segundo o levantamento do
UNODC.Embora o tráfico para trabalho
forçado seja agora mais detetado do que o tráfico para exploração
sexual, muito menos traficantes são condenados por esse crime.Em
2022, mais de 70% dos traficantes foram condenados por tráfico para
fins de exploração sexual e apenas 17% foram condenados por tráfico para
trabalho forçado, em contraste com 42% das vítimas detetadas em 2022.De acordo com o UNODC, a maior parte do tráfico de pessoas é perpetrada por grupos do crime organizado. Em
2022, os homens representavam cerca de 70% dos investigados,
processados e condenados por tráfico de pessoas e o número de pessoas
condenadas globalmente voltou a ficar um pouco abaixo dos níveis de
2019, mas com um aumento de cerca de 36% em comparação a 2020.