Número de mulheres nas Forças Armadas está a descer desde 2010
5 de mar. de 2018, 10:17
— Lusa/AO online
A
percentagem de mulheres nas Forças Armadas baixou de 13% para 10,5%
entre 2010 e 2017, ano em que o efetivo totalizava 2.930 mulheres,
segundo um estudo de investigadores do Centro de Investigação e Estudos
de Sociologia (CIES-IUL), que faz parte do livro “Desigualdades Sociais,
Portugal e a Europa”.“Em
2017, verificou-se um retorno aos valores anteriores ao fim do serviço
militar obrigatório [2004]”, adianta o estudo publicado no livro
“Desigualdades Sociais, Portugal e a Europa” que será divulgado na
quarta-feira, em Lisboa, no colóquio comemorativo dos 10 anos do
Observatório das Desigualdades.No ano passado, as mulheres constituíam 10,6% dos militares da Marinha, 8,7% do Exército e 14,8% da Força Aérea em 2017.Segundo
o estudo, o aumento do número de mulheres nas Forças Armadas foi
pronunciado até 2000, altura em que estabilizou, voltando a subir ainda
mais acentuadamente a partir de 2004, ano em que terminou o serviço
militar obrigatório e em que o recrutamento passou a ser exclusivamente
voluntário. “Essa
tendência [de aumento] manteve-se até 2010, altura em que se inverteu
e, pela primeira vez, se assistiu a uma redução significativa do número
de mulheres, afetando em particular o Exército”, sublinha o estudo.A
descida é explicada pela “forte redução de efetivos militares em
contexto de crise”, que penalizou sobretudo os regimes de voluntariado e
contrato, nos quais as mulheres se concentravam numa percentagem
superior à média.Para os autores do estudo, “esta tendência de decréscimo da representação feminina é simultaneamente inesperada e paradoxal”. “Inesperada,
uma vez que o aprofundamento do processo de profissionalização e os
desafios de recrutamento que habitualmente se lhe associam conduziriam
potencialmente a um reforço da componente feminina”, sublinham.“É
paradoxal” no quadro dos compromissos assumidos por Portugal na
implementação da resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, que exorta os Estados a aumentar a representação feminina nas
suas forças e nos contingentes enviados para missões internacionais.Tal
como noutros países, “o envolvimento de mulheres em atividades
militares nas áreas mais operacionais tem sido objeto de resistências e
dificuldades”. Apesar
dos elevados níveis de aceitação da presença militar feminina,
sobretudo entre os oficiais, “as atitudes relativas ao seu envolvimento
operacional, em particular se se considerar também a categoria de
praças, nem sempre revelou a mesma positividade”, refere o estudo.“O
padrão de desigualdade que ainda persiste, bem como um significativo
retrocesso em termos de níveis de representação, mostram como são por
vezes frágeis os progressos conseguidos no plano da construção da
igualdade e que uma permanente monitorização e avaliação de políticas e
resultados se impõe”, acrescenta. O
estudo adverte que a "inexistência de políticas concretas" em áreas que
“provocam erosão nos níveis de empenhamento das mulheres”, como a
conciliação entre família e profissão, “poderá continuar a produzir
efeitos nos níveis de integração de género nas forças armadas e, por
essa via, na qualidade do relacionamento civil-militar em Portugal”