“A
cidade de Mariupol e os seus moradores sofreram horrores inimagináveis
desde o início do ataque armado da Federação Russa”, sublinhou a
responsável na sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU,
hoje realizado.“Estou chocada com a escala
da destruição e as inúmeras violações do direito internacional, dos
direitos humanos e do direito internacional humanitário que foram
cometidas na cidade, incluindo ataques contra civis e bens civis”,
afirmou no seu discurso perante os membros do Conselho, reunidos em
Genebra.“Estimamos que o número de mortos
civis em Mariupol esteja na casa dos milhares, mas só com o tempo será
possível tornar claro a verdadeira escala de atrocidades, vítimas e
danos”, avançou Michele Bachelet, acrescentando que as áreas
residenciais da cidade foram ocupadas pelas forças armadas russas e
grupos armados afiliados.Segundo a alta-comissária, não é só em Mariupol que os direitos humanos estão a ser violados.O
Alto Comissariado da ONU “continua a verificar [em toda a Ucrânia]
alegações de violações do direito internacional, dos direitos humanos e
do direito internacional humanitário, muitas das quais podem constituir
crimes de guerra”.Bachelet adiantou que
uma missão da organização esteve, na semana passada, em 14 cidades e
vilas das regiões de Kiev e Chernihiv – ocupadas por forças russas até
março – e recolheu relatos sobre a forma como “parentes, vizinhos e
amigos foram mortos, feridos, detidos ou estão desaparecidos”.“Esta
foi a segunda visita [que a organização fez] a estas regiões e dói-me
imaginar quantas visitas serão necessárias para documentar apenas uma
fração das flagrantes violações de direitos humanos que lá aconteceram”,
disse a alta-comissária.De acordo com
Michele Bachelet, “até ao momento, mais de 1.000 corpos civis foram
recuperados apenas na região de Kiev”, sendo que “algumas dessas pessoas
foram mortas nas hostilidades, mas outras parecem ter sido sumariamente
executadas”.Muitos morreram com problemas
de saúde causados pelas hostilidades e pela falta de assistência
médica, já que “passaram semanas em caves, ameaçados por soldados russos
de abuso ou de morte se tentassem sair”.“Na
aldeia de Yahidne, na região de Chernihiv, 360 moradores, incluindo 74
crianças e cinco pessoas com deficiência, foram forçados pelas forças
armadas russas a permanecer durante 28 dias na cave de uma escola. A
cave estava superlotada e as pessoas tinham de estar sentadas durante
dias, sem possibilidade de se deitarem. Não havia instalações
sanitárias, água ou ventilação. Dez idosos morreram”, contou.No
seu discurso no Conselho de Direitos Humanos – de onde a Rússia foi
suspensa há algumas semanas -, Bachelet referiu ainda que “a escala de
assassinatos ilegais, incluindo indícios de execuções sumárias em áreas a
norte de Kiev, é chocante”.Embora o alto
comissariado tenha informação sobre 300 desses assassinatos, “os números
continuarão a aumentar à medida que novas evidências estiverem
disponíveis”, disse. “Esses assassinatos
de civis muitas vezes parecem ter sido intencionais, realizados por
atiradores especiais [‘snipers’] ou soldados. Civis foram mortos ao
atravessar a estrada ou quando saíam dos seus abrigos para ir buscar
comida e água”, alertou Bachelet.“Homens
locais desarmados foram mortos porque os soldados russos suspeitavam que
apoiavam as forças ucranianas ou constituíam uma ameaça potencial, e
alguns foram torturados antes de serem mortos”, acrescentou.Por
outro lado, sublinhou, o alto comissariado está a investigar “alegações
de violência sexual e verificou uma dúzia de casos em todo o país” e
foram documentados casos de “forças armadas russas que detiveram civis,
principalmente homens jovens, e depois os transferiram para a
Bielorrússia e depois para a Rússia, onde foram mantidos em centros de
detenção preventiva”.Desde o início da
invasão da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro, a organização já
documentou “204 casos de desaparecimento forçado, dos quais 169 são
homens, 34 são mulheres e um é um menino”, informou a alta-comissária.“Os
que estão no comando das forças armadas devem deixar claro aos seus
membros que qualquer pessoa envolvida em tais violações será processada e
responsabilizada”, avisou a líder da organização da ONU dedicada a
defender os direitos humanos.“Exorto ambas
as partes em conflito a respeitarem plenamente as suas obrigações de
direito internacional, direitos humanos e direito internacional
humanitário, incluindo com investigações de todas as alegações de
violações”, concluiu.