Número de civis mortos em conflitos armados aumentou 72% em 2023
18 de jun. de 2024, 11:03
— Lusa
Os dados, que
classificou de “aterradores”, foram hoje apresentados por Volker Türk na
abertura da 56º sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas, que decorre até 12 de julho em Genebra, Suíça.O
responsável enfatizou as consequências dos “ataques implacáveis” do
exército israelita em Gaza, em boa parte responsáveis pelo forte aumento
do número global de vítimas entre civis.“Custa-me
iniciar a minha atualização global, mais uma vez, com a crueldade da
guerra. Em 2023, os dados recolhidos pelo meu gabinete mostram que o
número de mortes de civis em conflitos armados aumentou 72%. De forma
aterradora, os dados indicam que a proporção de mulheres mortas em 2023
duplicou e a de crianças triplicou, em comparação com o ano anterior”,
apontou o alto-comissário.Türk
manifestou-se particularmente “chocado com o desrespeito pelos direitos
humanos internacionais e pelo direito humanitário por parte das partes
envolvidas no conflito em Gaza”.“Tem
havido mortes e sofrimentos inaceitáveis. Mais de 120 mil pessoas em
Gaza, na sua esmagadora maioria mulheres e crianças, foram mortas ou
feridas desde 07 de outubro, em resultado das intensas ofensivas
israelitas", indicouReferiu que desde que
Israel intensificou as suas operações em Rafah, no início de maio, quase
um milhão de palestinianos foram mais uma vez deslocados à força,
enquanto o fornecimento de ajuda e o acesso humanitário se deterioraram
ainda mais".Também na Cisjordânia,
incluindo Jerusalém Oriental, a situação “está a deteriorar-se
dramaticamente”, prosseguiu, apontando que, à data de 15 de junho, “528
palestinianos, 133 dos quais crianças, tinham sido mortos pelas forças
de segurança israelitas e/ou por colonos desde outubro, o que, em muitos
casos, suscita sérias preocupações quanto a mortes ilegais”.No
mesmo período, 23 israelitas foram mortos na Cisjordânia e em Israel em
confrontos ou ataques de palestinianos, enquanto, recordou, “os grupos
armados palestinianos continuam a manter muitos reféns e, em alguns
casos, em zonas densamente povoadas, colocando-os a eles e aos civis
palestinianos em maior risco”. “Os ataques
implacáveis de Israel em Gaza estão a causar imenso sofrimento e
destruição generalizada. A recusa e a obstrução arbitrárias da ajuda
humanitária prosseguiram, e Israel continua a deter arbitrariamente
milhares de palestinianos. Esta situação tem de acabar”, sustentou o
responsável máximo da ONU para os Direitos Humanos.Volker
Türk também se manifestou “extremamente preocupado com a escalada da
situação entre o Líbano e Israel”, indicando que os dados disponíveis
apontam para que já tenham sido mortas “401 pessoas no Líbano, incluindo
paramédicos e jornalistas”. “Mais de 90
mil foram deslocadas no Líbano e mais de 60 mil foram deslocadas em
Israel, com 25 vítimas mortais israelitas. Milhares de edifícios foram
destruídos. Reitero o meu apelo à cessação das hostilidades e aos atores
com influência para que tomem todas as medidas possíveis para evitar
uma guerra em grande escala”, disse.Relativamente
à guerra na Ucrânia, lamentou que também aqui a situação esteja a
deteriorar-se, sublinhando que “a recente ofensiva terrestre das forças
armadas russas na região de Kharkiv, na Ucrânia, destruiu comunidades
inteiras”,Os residentes “muitos dos quais
idosos, [são forçados] a esconderem-se em caves, sem eletricidade, água
ou alimentação adequada, à medida que a zona era alvo de intensos
ataques com armas explosivas com efeitos de área alargada”.O
alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos realçou que, “além de
infligir um sofrimento humano insuportável, a guerra tem um preço
elevado”, e revelou que, “até ao final de maio de 2024, o fosso entre as
necessidades de financiamento humanitário e os recursos disponíveis
ascende a 40,8 mil milhões de dólares”, cerca de 38 mil milhões de
euros.Lamentando que, em média, apenas
cerca de 16,1% dos apelos de ajuda humanitária sejam financiados, Volker
Türk assinalou, “a título de comparação, que as despesas militares a
nível global em 2023 ascenderam a perto de 2,5 triliões de dólares
(cerca de 2,3 triliões de euros), um aumento de 6,8% face ao ano
anterior, o mais acentuado desde 2009.A
concluir a sua intervenção, o alto-comissário advertiu que se está a
assistir a “ataques verbais cada vez mais agressivos, a ameaças e
represálias e a campanhas virulentas nas redes sociais contra
instituições e mecanismos internacionais, incluindo as Nações Unidas em
geral” e o seu gabinete em particular, mas também visando “titulares de
mandatos dos procedimentos especiais, o Tribunal Internacional de
Justiça e o Tribunal Penal Internacional”.“Isto
é inaceitável. Estas instituições foram criadas e mandatadas pelos
Estados precisamente para levar a cabo o seu trabalho crucial. E os
Estados devem facilitar este trabalho e protegê-lo de interferências e
ataques indevidos”, exortou.