Autor: Lusa/AO online
"Existem muitos livros de fotografia, daí a ideia de mapear a cidade com ficção escrita de forma a ficarmos com um registo literário para memória futura. A ideia é de algum modo fugir ao que já está feito", avançou à Lusa Maria Helena Frias, editora da Artes e Letras.
A obra, que teve como "única premissa" a delimitação do espaço geográfico, confinado à mais populosa cidade do arquipélago, acaba por "de certa forma ser uma homenagem à cidade", frisou.
Os autores desta edição são os escritores Joel Neto, Nuno Costa Santos, Leonor Sampaio da Silva e Leonardo, as tradutoras Blanca Martin-Calero e Maria Brandão, o radialista Tiago Ribeiro, o artista plástico Mário Roberto, a empresária do setor do turismo Maria das Mercês Pacheco, o antigo jornalista e assessor Carlos Tomé e o advogado e ex-deputado à Assembleia da República Pedro Gomes.
Nomes de diferentes formações que permitem "linguagens diferenciadas", numa "simbiose" entre diferentes autores, diz a editora
"É uma edição onde a ficção tem a ousadia de trazer para o espaço literário aqueles que estão à sua margem, numa simbiose com escritores de renome da nossa literatura", apontou ainda Maria Helena Frias.
O título da obra remete para um poema de 1978 do açoriano Emanuel Jorge Botelho e a escolha do conto como género escolhido deve-se às características do "mundo contemporâneo"
"O conto deve-se ao facto de ser uma prosa curta, concisa, mas completa, perfeita. Embora se fale da crise do contar na era do digital, ele não deixa de ser perfeita para o mundo contemporâneo onde tudo é rápido, fugaz e fragmentado", destacou.
Esta é a primeira edição da coletânea de contos que terá periodicidade anual: "Já estamos a trabalhar na edição do ano que vem", disse Maria Helena Frias.
Um dos autores desta primeira edição, Leonardo, em declarações à agência Lusa, afirmou que representou a cidade como uma "cidade bêbeda", que vai aproveitando "algumas coisas boas que acontecem", sem saber "muito bem para onde vai" e sem calcular as consequências futuras.
Leonardo destacou que Ponta Delgada se "foca muito no centro", o que provoca uma "morte cultural" nas freguesias mais "periféricas".
O escritor acredita que Ponta Delgada está a "interromper" aquele que considera o seu "património mais rico", a vista para o mar, sobretudo devido à construção de edifícios, em virtude do aumento do turismo.
"Chegarmos ao ponto de haver quem escreva que o turismo é tão importante quanto o oxigénio para essa cidade, isso acho que é um erro estratégico. Por aí vamos ter muitos alojamentos locais e muita gente feliz com máscaras de oxigénio a tentar respirar", considerou.
Outra autora, Blanca Martin-Calero, referiu à Lusa que mais do que retratar Ponta Delgada, procurou explorar as "vivências da cidade".
"Esta também é uma viagem à memoria, ao passado, ao despertar de sentimentos que pensávamos que já não existiam. E isso junta-se com a imagem da cidade", destacou.
A espanhola, a residir nos Açores há 16 anos, considerou a "relação com o mar", as "ruas estreitas", o "mercado", a pequena dimensão e o contraste entre a "pedra preta do chão e o branco das fachadas", como algumas das características de Ponta Delgada.
"Avenida
Marginal" tem a chancela da editora Artes e Letras, da livraria
Sol-Mar, e conta com o apoio da Câmara Municipal de Ponta Delgada.