Nove em cada 10 vítimas de violência doméstica não recorre a apoios
23 de nov. de 2017, 10:19
— Lusa/AO online
“O
que os grandes estudos a nível nacional e internacional dizem é que nem
10% das vítimas chegam aos sistemas de apoio” por diversas razões”,
adiantou a diretora da área da violência da UMAR, que falava à agência
Lusa a propósito do Dia Internacional para a Eliminação da Violência
Contra as Mulheres, assinalado no sábado. Apesar
de “vivermos num sistema de muita informação”, muitas vezes o
isolamento a que as vítimas estão votadas e em que os agressores as
colocam, “impede que tenham acesso à informação”, explicou Elisabete
Brasil.Por
outro lado, em termos geográficos, também ainda não há “respostas em
todas as localidades, em todos os concelhos, que permitam um acesso
fácil ao sistema de apoio”.O
silêncio das vítimas foi denunciado esta semana, em Bruxelas, pelo
Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE), segundo o qual “a
violência contra as mulheres é um problema muito maior do que as
estatísticas mostram”. De
acordo com o EIGE, quase uma em cada duas mulheres (47%) que sofreu
violência nunca disse a ninguém, “seja à polícia, serviços de saúde, um
amigo, vizinho ou colega”. Questionada
sobre estes dados, Elisabete Brasil disse que é uma realidade que
também se passa em Portugal, considerando que ainda há “um longo caminho
a percorrer” para inverter este quadro.“Temos
a consciência de que muito do que foi feito é ainda pouco, que este é
um longo caminho a percorrer, e que esta não é uma luta das vítimas de
violência doméstica e não é uma questão das mulheres”, frisou.É uma “questão de cidadania, de dignidade humana, de direitos humanos”, disse a responsável da UMAR“Para mudar tudo isto, precisamos de todos e não seremos muitos”, defendeu.Para
Elisabete Brasil, “a participação, o interesse, a informação é uma
tarefa” que diz respeito a todos e, como tal, “todos são convocados a
participar”.“É
um apelo para que não nos esqueçamos das vítimas de violência
doméstica, é um apelo à não-aceitação da violência, e de que cada um dos
nós é necessário num mundo que acreditamos ser possível melhorar”,
rematou.Segundo
dados recolhidos pelo Observatório das Mulheres Assassinadas, da UMAR,
baseados nos crimes noticiados pela imprensa até 20 de novembro, 18
mulheres foram assassinadas e 23 foram vítimas de tentativa de
homicídio.Para
alertar para esta realidade e assinalar o Dia Internacional para a
Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a UMAR realiza na
sexta-feira, em Lisboa, um seminário sobre a Convenção de Istambul
(convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à
Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica), ratificada por
Portugal.Esta iniciativa visa potenciar o conhecimento sobre a Convenção de Istambul e avaliar a sua aplicação em Portugal.No
sábado, a UMAR promove uma marcha contra a violência, que parte do
Largo do Intendente às 16:00, disse Elisabete Brasil, adiantando que
estas iniciativas se repetirão noutras capitais de distrito do país.