Nova lei das freguesias baixa à especialidade e mereceu duras críticas do CDS
29 de jan. de 2021, 18:44
— Lusa/AO Online
Os deputados
discutiram uma proposta do Governo relativa a "um regime geral e
abstrato de criação, modificação e extinção de freguesias", uma do Bloco
de Esquerda, que simplifica os critérios para que as freguesias possam
reorganizar-se a tempo das eleições autárquicas, que se realizam em
setembro ou outubro, e outras do PCP e de Os Verdes, que pretendem a
reversão da fusão ocorrida em 2013 nos casos em que as freguesias não
aprovem essa agregação. PCP, PEV e
BE pediram que os seus projetos baixem, por 30 dias, à comissão sem
serem votados. Havendo acordo em comissão, os projetos ou um texto comum
regressam ao plenário para votação na generalidade, especialidade e
final global. O debate segue para a
especialidade, mas a deputada Cecília Meireles, do CDS-PP, um dos
partidos do Governo PSD/CDS-PP que promoveu a reforma de 2013, foi muito
crítica em relação a estas propostas.A
deputada considerou que se as propostas falam de "reversão" da reforma
das freguesias de 2013 "o CDS-PP está contra" de forma "absolutamente"
clara e inequívoca, por considerar que a reforma "não terá sido
perfeita, mas sim, foi necessária e sim, tem um balanço muito positivo".Cecília
Meireles criticou ainda o momento em que o Governo traz esta proposta
ao parlamento, oito anos depois de uma reforma e a meses de umas
eleições autárquicas, "no meio de uma pandemia, numa crise social
económica e sanitária sem precedentes", defendendo que "há muitas outras
discussões mais urgentes e muitíssimo mais pertinentes e necessárias".A
deputada admitiu alguns ajustamentos pontuais, mas disse ser
"radicalmente contra" discutir projetos "para duplicar, triplicar ou
quadruplicar o número de freguesias", de instituições e de eleitos
democraticamente nessas freguesias."É bom
que fique claro que, se nós aumentarmos significativamente o número de
freguesias, o que estamos a fazer é desinvestir na qualidade dos
serviços públicos. Estamos a gastar mais nos eleitos e nas instituições
do que estamos a gastar de facto nos serviços", afirmou.Isaura
Morais, do PSD, o outro partido do Governo em 2013, lembrou que a
reforma "foi imposta pela 'troika' e incluída no memorando de
entendimento entre Portugal e a 'troika', "que o Estado português teve
de cumprir".A deputada considerou que, "ao
contrário do que muitos anteciparam", a reforma "não conduziu a um
problema nas eleições autárquicas de 2013" e "teve uma larga aceitação
pelos autarcas eleitos".Segundo a
deputada, as propostas "carecem ainda de um debate sereno e profundo" e o
PSD "está pronto para um debate sério e esclarecedor" também com
autarcas e cidadãos."A reforma das
freguesias muito provavelmente deve ser ajustada, mas, feita à pressa,
não", sublinhou, acusando o PS de "adiar compromissos", porque se
comprometeu em 2015 a analisar o mapa, mas apenas apresentou a proposta
no dia 28 dezembro, "na pausa de Natal e em forte constrangimento
causado pela pandemia".O deputado da
Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, afirmou que o seu
partido "respeitará a vontade expressa das comunidades locais nos casos
em que forem largamente maioritárias e em que tenham condições materiais
para subsistirem por si só", porque "quem pede autonomia deve também
assumir a responsabilidade correspondente"."Estamos
disponíveis para a discussão na especialidade", afirmou o deputado, que
quis também "deixar claro que a IL se opõe a que este diploma seja
discutido à pressa, para entrar em vigor antes das próximas eleições
autárquicas".Bebiana Cunha, do PAN,
defendeu "a reavaliação caso a caso" das propostas das freguesias, "que
se tenham em consideração critérios ignorados" em 2013, "com
equilíbrio".A deputada alertou que o PAN
"não é a favor que se passe do oito para o 80, de uma reversão de uma
situação a régua e esquadro, para reposição a torto e a direito", numa
reação à proposta do PCP e de Os Verdes, que propõem a reversão da
agregação das freguesias que se manifestaram contra.Por
outro lado, considerou a posição do Governo como "uma posição
intermédia" que pode fazer caminho na especialidade, onde o PAN também
irá apresentar propostas, nomeadamente uma para impedir que eleitos
locais que estejam impedidos pela limitação de mandatos se possam
candidatar às novas freguesias criadas pela nova reforma.Já
o deputado do Chega, André Ventura, acusou os partidos socialista e
comunista de quererem uma reforma das autarquias a poucos meses das
autárquicas com o objetivo de "aumentar os eleitos do partido socialista
e do partido comunista nestas eleições".A
criação de uma lei com os parâmetros de criação, modificação e extinção
de freguesias vem preencher um vazio legal que existe desde 2013.Segundo
a ministra da Modernização Administrativa, Alexandra Leitão, a proposta
de lei do Governo “não visa aumentar ou diminuir freguesias”, mas
atualizar os critérios para a sua a criação e definir o enquadramento
geral que permita retificar pontualmente incorreções da reforma de 2013.A
ministra destacou hoje que as freguesias devem respeitar
cumulativamente critérios de população e de território, entre um mínimo
de 900 eleitores ou de 300 no caso de freguesias em territórios de baixa
densidade, critérios de prestação de serviços à população, de eficácia e
eficiência da gestão pública, de história e identidade cultural e de
vontade política das populações.“Para dar
estabilidade ao mapa autárquico”, o diploma estabelece que não é
permitida criação de freguesias durante os seis meses anteriores às
eleições e, “após ocorrer uma alteração, não pode ocorrer outra
alteração nos três mandatos seguintes”, sublinhou.Paula
Santos, do PCP, considerou que a lei do Governo “não permite a
reposição das freguesias, porque estabelece critérios que freguesias
extintas contra a sua vontade não conseguem cumprir” por fatores que não
são da sua responsabilidade, como ausência de centros de saúde.José
Luís Ferreira, de Os Verdes, considerou que a reforma de 2013 foi feita
com o propósito apenas de “reduzir as autarquias, mesmo que isso
causasse mais dificuldades nas vidas das populações”, defendendo a
reposição de todas as freguesias extintas cujos órgãos não se tenham
pronunciado favoravelmente, mas também permitir que os órgãos das
restantes possam avaliar a fusão e possam decidir voltar atrás.O
deputado bloquista José Maria Cardoso destacou que o vazio legal
justificava “há muito uma nova lei”, salientando que a proposta do
partido simplifica alguns procedimentos para dar celeridade ao processo,
que quer já em vigor nas próximas autárquicas.Em
2013, durante o período de ajuda internacional da 'troika', a reforma
administrativa promovida pelo Governo PSD/CDS-PP agregou ou extinguiu
1.168 freguesias para as 3.092 que existem atualmente, o que mereceu a
contestação de muitos autarcas.