Nova estrutura de financiamento da saúde nos Açores “não é ingerência”
13 de mar. de 2023, 15:59
— Lusa
“Não
se trata de um exercício de ingerência. Longe disso. Trata-se sim da
oportunidade que importa assegurar para o governo no quadro de uma
futura revisão da Lei de Finanças das Regiões Autónomas”, afirmou José
Manuel Bolieiro, em declarações aos jornalistas no Palácio de Sant’Ana,
em Ponta Delgada, após uma reunião com o conselho médico da Ordem dos
Médicos nos Açores.A 04 de março, a
ex-presidente do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), Cristina
Fraga, foi nomeada para a Estrutura de Missão para o Acompanhamento do
Financiamento da Saúde (EMAFIS).A
indicação de Cristina Fraga foi um dos motivos anunciados pela
Iniciativa Liberal (IL) para romper o acordo que suporta o Governo dos
Açores, considerando que aquela nomeação “constitui uma afronta a todos
os profissionais” do HDES.Hoje, Bolieiro
justificou que aquela estrutura vai analisar os “sobrecustos” da saúde
nos Açores, tendo em conta uma “futura revisão da Lei de Finanças
Regionais”, através do “diálogo institucional” entre os Governo dos
Açores, da República e da Madeira.O
presidente do executivo açoriano realçou que o EMAFIS está na tutela da
secretaria das Finanças e assegurou “máxima autonomia” para a nova
administração do Hospital de Ponta Delgada, liderada agora por Manuela
Gomes de Menezes.“Não ignorámos as
dificuldades e as polémicas surgidas nos últimos tempos. Aliás, seria da
máxima hipocrisia fazer esse ‘bypass’ sem olhar e cuidar deles, em
particular em relação ao HDES. Que fique bem claro: está nomeado um novo
conselho de administração para o HDES com máxima autonomia”, vincou.A
02 de dezembro, Cristina Fraga demitiu-se da presidência do HDES, na
sequência da demissão de 21 dos 25 diretores de serviços, tendo a sua
gestão sido criticada por sindicatos e pelas ordens profissionais.Hoje,
aos jornalistas, o presidente do conselho regional da Ordem dos Médicos
nos Açores, Carlos Ponte, disse ter ficado “surpreendido” com a criação
daquela estrutura.“Ficamos a aguardar.
Ficámos surpresos e com muita preocupação, mas vamos ficar atentos a
isso. Achamos que na nomeação da pessoa talvez tenha existido uma falta
de sensibilidade política. No entanto, nós somos a Ordem e o governo é
governo. Vamos aguardar”, afirmou.O
responsável pela Ordem dos Médicos na região disse ainda estar com “boas
expectativas” em relação à nova secretária da Saúde, Mónica Seidi.No
dia seguinte à criação da EMAFIS, o então secretário da saúde, Clélio
Meneses demitiu-se, invocando “razões exclusivamente políticas, assentes
em divergências insanáveis e inultrapassáveis, evidenciadas em
sucessivas ingerências no exercício do cargo […], dificultando, quando
não impedindo, o cumprimento da complexa missão de gerir o setor”.Na
terça-feira, em entrevista à RTP, questionado diretamente sobre se a
nomeação de Cristina Fraga para a EMAFIS esteve na origem da demissão de
Clélio Meneses, o presidente do Governo Regional, o social-democrata
José Manuel Bolieiro, disse que “não”.Na
sexta-feira, Nuno Barata, da IL, e o independente Carlos Furtado
admitiram negociar “ponto a ponto” com o Governo dos Açores para manter a
estabilidade governativa na região, apesar de terem rompido os acordos
de incidência parlamentar.Na Assembleia
Legislativa Regional, o executivo regional de coligação PSD/CDS-PP/PPM
passou a ter o apoio de apenas 27 deputados em vez dos iniciais 29,
mantendo um acordo de incidência parlamentar com o Chega.Falta-lhe um deputado para assegurar a maioria dos votos no parlamento açoriano, que é composto por 57 parlamentares.