Nova editora Marca Pistola quer registar a cena musical açoriana
20 de mai. de 2021, 11:50
— Lusa/AO Online
“Se as bandas são
boas, temos conservatório, excelentes executantes e bandas com
potencial, porque é que estas bandas não chegam lá fora? Porque é que,
com tanto potencial, depois desistem e perseguem outras coisas? Como é
que a Covid-19 poderia vir a afetar ainda mais essa situação?”,
interroga o fundador da editora, Luís Banrezes.Foi
a partir destas questões que nasceu a Marca Pistola, “um projeto que
surgiu em plena pandemia, em quarentena, sem perspetivas de futuro”, mas
com a certeza “de que, nos Açores, musicalmente, somos muito fortes”,
explica Banrezes à Lusa.“A nossa história
diz isso”, sublinha o criador deste projeto, codiretor artístico do
festival Tremor, fundador da agenda cultural Yuzin e dono da La Bamba
Record Store, em Ponta Delgada.O objetivo
da editora discográfica é “criar uma estrutura que possa, de alguma
forma, albergar todos estes artistas, todas estas ideias e, sobretudo,
(…) registá-las”.Para já, estão planeadas
edições, acompanhadas de produções audiovisuais, de projetos como PMDS,
Ma’ç’arico, We Sea, Insecure Frank, Vitória, P.S. Lucas, Filipe Furtado,
Tosco, Luís Senra, Flip e Rapeciaz, adianta a editora, em nota de
imprensa.O projeto assenta numa plataforma
‘online’, que promove o trabalho de artistas açorianos, em vários
formatos, apostando não só no registo sonoro, com edição física em vinil
e cassete, mas também em vídeo e fotografia.Para
o responsável, é importante a “ideia de criar um registo sonográfico,
fonográfico, para criar memória, para criar uma identidade açoriana”,
complementado com uma componente visual, que quer “transformar esta
música da Marca Pistola, provavelmente, numa banda sonora de paisagens
açorianas”.“Quando as pessoas compram uma
cassete ou um disco, que levem um registo único para casa, uma coisa que
lhes faça sentido e que as transporte, sobretudo, para este universo
dos Açores, de uma nova contemporaneidade sonora, visual, fotográfica”,
reforça.A Marca Pistola surge para
potenciar “esta cena nova da música açoriana, ou não”, porque a editora
também “bebe muito do passado e o passado também está muito presente
neste projeto”, explica o responsável.O
passado renasce através da sub chancela Milhafre Discos, um ramo
coordenado por Henrique Ferreira, conhecido como DJ Milhafre, que
procura registos escondidos ou perdidos do reportório açoriano, adianta
Luís Banrezes.“Há tantas coisas, por
exemplo, há músicas do Zeca [Medeiros] que não foram editadas, músicas
do Luís Gil [Bettencourt] que também não foram editadas. Susana Coelho –
incrível – onde está a Susana Coelho?”Mas
antes de começarem a editar esses trabalhos, vão esperar que o “projeto
tenha alguma escala de interesse, [para] poder ir ao mais estranho,
mais experimental, porque também existia isso na altura”, prossegue,
acrescentando que “os Açores têm coisas inacreditáveis, que necessitam
de ganhar vida”.Com 11 edições em
catálogo, para este ano, a Marca Pistola tem “mais 11 nomes na carteira
para lançar para o ano”, garante o editor desta “’label’, representativa
de tudo o que, à partida, não cabe”, que pretende “abrir totalmente o
mercado” e gerar a “possibilidade de haver uma atividade cultural muito
diversa”, nos Açores.Para já, os
lançamentos dos discos vão-se acumulando, porque “o mercado musical está
completamente parado e atrasado”, e, para não deixarem cair “o projeto
um bocadinho em desuso”, vão “criar cassetes, mas não são cassetes
normais, são cassetes com surpresas lá dentro”, diz o fundador.“Não
posso agora revelar, mas são registos únicos e formatos únicos, que vão
acrescentar ao próprio produto da cassete. Depois, obviamente, vamos
ter de fazer aqui alguma comunicação digital. Isto tudo, enquanto os
formatos físicos não saírem e ganharam vida, porque está tudo muito
atrasado”.O responsável acredita “que as
pessoas vão ficar muito surpreendidas com o som que esta nova geração
está a fazer nos Açores – super contemporâneo, super atual, um som super
globalizado, mega independente… Nada a ver com o que temos ouvido
recentemente – e nada contra – com bandas que estão aí na moda”.Banrezes
assevera que “isto não vai contra, em nada, o que já existe; pelo
contrário, vem reforçar” e diz que a editora quer criar os seus
“próprios contextos”, potenciando a realização de concertos e a criação
de conteúdos para os seus artistas.“O que
queremos fazer é a criação de novos conteúdos, a criação de uma nova
geração musical, que tem muito potencial e que é totalmente
desconhecida. Temos bandas inacreditáveis nos Açores, que ainda não
foram claramente projetadas”, remata.