Nova análise genética no mercado de Wuhan pode ajudar a encontrar origem
Covid-19
20 de set. de 2024, 15:04
— Lusa/AO Online
Os investigadores analisaram o
material genético recolhido no mercado chinês onde foi detetado o
primeiro surto e concluíram que os animais mais prováveis são os
cães-guaxinim, civetas e ratazanas de bambu.Os
cientistas suspeitam que os animais infetados foram trazidos pela
primeira vez para o mercado Huanan, situado em Wuhan, centro da China,
no final de novembro de 2019, o que desencadeou a pandemia.Michael
Worobey, um dos autores do estudo, disse que a equipa descobriu quais
subpopulações de animais podem ter transmitido o coronavírus a humanos.
Isso pode ajudar a identificar os locais onde o vírus circula
habitualmente nos animais.Os cientistas
poderão então começar a recolher amostras de morcegos na zona, que são
conhecidos por serem os reservatórios naturais de coronavírus
semelhantes, como o responsável pela SARS.Embora
a investigação reforce a hipótese de a covid-19 ter surgido a partir de
animais, não resolve o debate polarizado e político sobre se o vírus
terá surgido de um laboratório de investigação situado em Wuhan.Mark
Woolhouse, professor de doenças infecciosas na Universidade de
Edimburgo, afirmou que a nova análise sugere que a pandemia “teve as
suas raízes evolutivas no mercado” e que é muito improvável que o vírus
estivesse a infetar pessoas antes de ser identificado.“É
uma descoberta significativa e isto faz com que as hipóteses mudem mais
a favor de uma origem animal”, disse Woolhouse, que não está ligado à
investigação. “Mas não é conclusivo”, ressalvou.Um
grupo de especialistas liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
concluiu em 2021 que o vírus provavelmente se espalhou para humanos a
partir de animais e que uma fuga de um laboratório era “extremamente
improvável”. O chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse mais
tarde que era prematuro descartar a teoria da fuga.Uma
investigação da agência de notícias Associated Press, publicada em
abril, apurou que a busca pelas origens do coronavírus na China está a
ser dificultada por lutas políticas internas e oportunidades perdidas
por funcionários de saúde locais e globais para reduzir as
possibilidades.Os cientistas afirmam que talvez nunca venham a saber com certeza de onde veio exatamente o vírus.No
novo estudo, publicado na quinta-feira na revista Cell, cientistas da
Europa, Estados Unidos e da Austrália analisaram dados anteriormente
divulgados por especialistas do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de
Doenças.O estudo incluiu 800 amostras de
material genético recolhido por trabalhadores chineses em 01 de janeiro
de 2020 no mercado de marisco de Huanan, um dia depois de as autoridades
municipais da cidade terem dado o alarme sobre um vírus respiratório
desconhecido.Os cientistas chineses
publicaram as sequências genéticas que encontraram no ano passado, mas
não identificaram nenhum dos animais possivelmente infetados com o
coronavírus.Na nova análise, os
investigadores utilizaram uma técnica que permite identificar organismos
específicos a partir de qualquer mistura de material genético recolhido
no ambiente.Worobey disse que a
informação fornece “um retrato do que existia [no mercado] antes do
início da pandemia” e que análises genéticas como esta “ajudam a
preencher os espaços em branco de como o vírus pode ter começado a
espalhar-se”.Woolhouse disse que o novo estudo, embora significativo, deixou algumas questões críticas sem resposta.“Não
há dúvida de que a covid-19 estava a circular naquele mercado, que
estava cheio de animais”, afirmou. “A questão que ainda permanece é como
chegou lá em primeiro lugar”, acrescentou.