Nomeado de Trump para liderar FBI pressionado a garantir independência e "despolitização" da agência
30 de jan. de 2025, 17:34
— Lusa/AO Online
Na audição de confirmação perante o
Comité Judiciário do Senado (câmara alta do Congresso
norte-americano), Kash Patel, de 44 anos, retratou-se como a escolha
certa para liderar o FBI, uma agência que acredita que perdeu a
confiança do público, e comprometeu-se com o "devido processo e
transparência", se for confirmado como diretor.Patel
comprometeu-se em apenas iniciar investigações com "uma base jurídica
factual e articulável", assegurando que "nunca faria algo
inconstitucional ou ilegal" e que "sempre obedecerá à lei"."Há
crimes violentos e ameaças à segurança nacional suficientes neste país
para que o FBI esteja ocupado a prevenir 100.000 overdoses, 100.000
violações e 17.000 homicídios", respondeu Kash Patel quando questionado
se moveria um processo contra o ex-diretor do FBI Chris Wray, após duras
críticas feitas por Trump."Não haverá ações retributivas tomadas pelo FBI, caso eu seja confirmado como diretor", acrescentou.Contudo,
durante a sessão, os senadores democratas mostraram-se profundamente
céticos sobre a capacidade de independência de Patel tendo em conta a
lealdade manifestada a Donald Trump e as "teorias da conspiração" que
difundiu no passado.O senador Richard
Durbin, o principal democrata no Comité Judiciário, afirmou que Patel
movimenta-se "em teorias de conspiração desmascaradas" e
expressou preocupação com as suas declarações anteriores sobre o "Estado
Profundo", avaliando que Patel “não atende aos padrões” para liderar o
FBI.A senadora democrata Amy
Klobuchar passou vários minutos a ler algumas declarações
públicas feitas por Kash Patel, desde a sua proposta de fechar a sede do
FBI e transformá-la num museu para o "Estado profundo" até
à integridade da eleição de 2020, passando pela pandemia de covid-19 e
críticas aos supostos inimigos de Trump. Patel considerou
que a senadora estava a fazer uma caracterização "grotesca" e afirmou
não se lembrar de ter feito alguns desses comentários.Antes
de ser nomeado para liderar o FBI, Patel criticou a agência pelas suas
investigações a Donald Trump e alegou que os invasores do Capitólio
foram maltratados pelo Departamento de Justiça.Trump
atacou repetidamente o FBI por conduzir a busca autorizada por um
tribunal na sua mansão em Mar-a-Lago, em agosto de 2022, e
recuperar mais de 100 documentos confidenciais. Durante
a audição, Patel recusou responder diretamente a uma pergunta
sobre se Donald Trump tinha perdido a eleição de 2020 - a qual o magnata
republicano afirma falsamente que lhe foi roubada.Ex-assessor
do Comité de Inteligência da Câmara dos Representante e ex-procurador
federal durante a primeira administração de Trump, Kash Patel alarmou os
críticos com as suas dezenas de declarações em 'podcasts' e livros, nas
quais demonstrou lealdade a Trump e atacou a tomada de decisões da
agência que agora foi convidado a liderar.Também identificou pelo nome as autoridades que acredita que deveriam ser investigadas.Patel chegou
a integrar um pequeno grupo de apoiantes de Trump que marcou presença
no recente julgamento criminal do magnata republicano em Nova Iorque e
disse aos jornalistas que o atual chefe de Estado era vítima de um
"circo inconstitucional".Esse vínculo
estreito entre Trump e Patel romperia com o precedente moderno de
diretores do FBI manterem-se distantes dos chefes de Estado.Porém,
aliados republicanos de Trump, que compartilham a crença de que o FBI
se tornou numa agência politizada, defenderam Patel e prometeram apoiar a
sua confirmação, vendo-o como uma figura que poderá promover as
mudanças necessárias na agência.O senador
republicano Chuck Grassley, presidente do Comité Judiciário, tentou
neutralizar os ataques a Patel preventivamente, concentrando-se na
necessidade de reformar o FBI que, na sua visão, tornou-se numa arma
política.Nos últimos anos, o
FBI envolveu-se em inúmeras investigações com grande repercussão
política incluindo não apenas os dois inquéritos federais sobre Trump
que resultaram em acusações, mas também investigações ao agora
ex-presidente Joe Biden e ao seu filho, Hunter Biden.“Não
é nenhuma surpresa que a confiança pública tenha diminuído numa
instituição que tem sido atormentada por abusos, falta de transparência e
na transformação da aplicação da lei numa arma", disse Grassley.“No
entanto, o FBI continua a ser uma instituição importante, até mesmo
indispensável, para a lei e a ordem no nosso país”, acrescentou o
senador na audição.